Transcrição: Edson Cruz no Pois É, Poesia
A pré-estreia do podcast Pois É, Poesia: Arte no Plural aconteceu no Dia da Poesia Mundial da Poesia, em 21 de março de 2024.
Acompanhe como foi a participação do poeta e editor Edson Cruz, em conversa com o apresentador Reynaldo Bessa.
A seguir, a transcrição:
(Vinheta) Pois é, Poesia
Reynaldo Bessa:
Edson Cruz é editor e escritor com 12 livros publicados,
entre poesia, prosa, crítica e infantojuvenil.
Seus três livros mais recentes foram editados pela Kotter: “Pandemônio”,
“Fibonacci Blues” e “Negrura”. É mestrando no programa de Escrita Literária da
USP. Edita o site de literatura e adjacências Musa Rara.
Lançou em 2016 sua antologia poética, “O canto verde das
maritacas”, Editora Patuá.
O Edson também é muito conhecido pela época em que ele
trabalhou muito com o site Cronópios, né, que lançou muita gente que na época
ainda nem era conhecido, viu? Foi um momento muito, muito bacana. O Edson tá aí
já, né? Deixa eu dar uma olhadinha aqui. Maravilha. Já falo com você, viu?
“Minha carta de alforria
Não me deu fazendas,
Nem dinheiro no banco,
Nem bigodes retorcidos.
Minha carta de alforria
Costurou meus passos
Aos corredores da noite de minha pele.”
Negro forro, de Adão Ventura, poeta mineiro que morreu
praticamente esquecido. Um homem simples, mas de uma poesia fantástica,
maravilhosa. Eu cheguei a conhecê-lo. Esse poema está nos 100 melhores poemas
brasileiros do século. Organização do Ítalo Moriconi.
Edson querido, irmão também um irmão, não é? Já viajamos
juntos aí... você pode citar um verso de um autor negro que você gostaria de o
ter escrito?
Edson Cruz:
E. É...
Reynaldo Bessa:
Enquanto você pensa, eu já pergunto, a pós-modernidade está
mais para um Pandemônio ou para um Fibonacci Blues, cara?
Edson Cruz:
É, só pergunta difícil, hein? Perguntas...
Reynaldo Bessa:
Você esperava o quê, rapaz?
Edson Cruz:
Esperava que você amaciasse para os irmãos, para os brothers...
Reynaldo Bessa:
Os poetas querem sempre ser amaciados. Boa, não... Vamos
botar isso para funcionar aí, vamos lá, pode responder as duas.
Se não lembrar do verso também, porque é de surpresa, fique
tranquilo. Responda a pergunta...
Edson Cruz:
O verso vai, vai, vai vindo aí durante o papo.
Os tempos que a gente vive, eu acho que estamos um pouco
para para os dois. A gente passou por um pandemônio bravo, né, que foi esses quatro
anos, não é? A pandemia mais quatro anos do Bolsonaro. Inclusive nesse período
eu gestei um livro com um título Pandemônio, né? Não é à toa que você está
fazendo essa pergunta realmente. Porque a gente vivenciou um pandemônio em
todos os níveis, todos os aspectos, né?
Fibonacci Blues é talvez algo... uma vivência cósmica nossa,
independente da gente, tá dentro do pandemônio, fora do pandemônio ou
preparando o próximo pandemônio. É, a gente vive nessa comunhão cósmica, né, que
são partículas explodindo o tempo todo. E a gente interferindo nisso o tempo
todo e criando fórmulas matemáticas que em alguns momentos a gente consegue
traduzir isso num verso, talvez, numa criação, num poema, né? A nossa vivência
é sempre em fractais, por isso Fibonacci, a Lei Áurea. É isso.
Agora, você... os versos... Meu último trabalho dialoga com
esses versos que ficam pulsando, né? Não só versos como frases do Fanon, letras
de samba, expressões afro-brasileiras. Então tem várias coisas, inclusive com
representações afro mesmo, africanas, né?
“O meu coração faz, ó meu coração, faz sempre de mim um
homem que se indigna”. Isso é um verso que o Fanon poderia ter dito e ele o
disse de outra forma. O Lima Barreto, por exemplo, ele diz, “eu nunca amei e
nunca fui amado”. Eu incorporo isso num dos poemas, né, desse livro, que se
refere inclusive ao Lima Barreto, ele diz, “nunca amei”...
Reynaldo Bessa:
Então você respondeu à primeira pergunta...
Edson Cruz:
É, tô respondendo. “Nunca amei e nunca fui amado, mas é no
futuro que a existência do verdadeiro homem se consagra”.
Reynaldo Bessa:
Maravilha isso. Eu citei seu livro aqui, tá? Eu citei no
momento em que eu falei. “Seus 3 livros mais recentes foram editados pela Kotter:
“Pandemônio”, “Fibonacci Blues” e “Negrura”. Está certo?
Edson Cruz:
Perfeito, perfeito.
Reynaldo Bessa>
Maravilha. Você quer deixar algumas considerações aí e tal,
mas eu já te agradeço aqui, de antemão a tua participação. Você sabe que você é
um irmão. Budista como eu na prática, na luta, na luta boa. Então fique à
vontade aí para tecer algumas considerações. Aquilo que você acha que é, é
importante agora, é relevante? Fique à vontade aí mais um minutinho, dois, enfim.
Edson Cruz:
Um minutinho, dois? Prefiro ler um poema curto que tá no
livro Negrura também, que se chama Calundu. “Eu não falo inglês, língua de
bárbaros sem esperança. Nem esperanto, língua sem alma, impossível canto. Me vingo
toda noite sonhando em língua ancestral banto”.
É isso. Obrigado pelo convite!
É maravilha. Obrigado pelo convite. Faça.
Reynaldo Bessa:
Obrigado a você. Obrigado você, viva a poesia, cara. Massa!
(Vinheta) Pois é, Poesia.
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