Link 2020: Como aumentar acessibilidade de podcasts e demais conteúdos em áudio?

 Na quarta, dia 09 de setembro, participei do evento Link: Festival Digital de Acessibilidade (Como criar um mundo sem barreiras). Abaixo, você confere como foi a conversa com a Eli Maciel, da agência Espiral Interativa:


Transcrição do áudio:

<ABERTURA ELI>

Falar sobre podcasts é uma delícia, afinal eles são uma forma de transmissão e compartilhamento de ideias, notícias, dados, pesquisas, enfim, qualquer tipo de conteúdo em áudio, que está em ascensão, principalmente no Brasil.

Segundo pesquisa do Ibope do ano passado, dos 120 milhões de internautas brasileiros, 50 milhões, o equivalente a 40%, já ouviram ou ouvem um podcast em algum momento nas suas rotinas.

Muitas marcas estão começando a lançar seus próprios podcasts para compartilhar seus conteúdos mais relevantes com seus públicos-alvo com o objetivo de fidelizar um público já existente, melhorar a reputação de marca e angariar novos fãs e seguidores, e, por que não, apoiadores.

Por isso tudo - e mais - falar sobre podcasts - e ouvir podcasts, claro - é uma delícia. Mas também pode ser um assunto sério quando falamos sobre como a web ainda não está preparada para o uso por pessoas com deficiência! E deveria estar. Aliás, já passou da hora de estar acessível para todas e todos.

Mas o que é ser acessível? Acessibilidade digital é uma série de recursos que possibilita a navegação, a compreensão e a interação de qualquer pessoa, independentemente de suas dificuldades, na web, de forma livre e autônoma, sem ajuda de ninguém. Em outras palavras: uma internet acessível pra absolutamente todo mundo!

E no Brasil, só no Brasil, hoje, são mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. No mundo, são 1,3 bilhão de PCDs. E essas pessoas, todas elas, querem, também, estudar, trabalhar, se divertir e relaxar no digital.

Então, no caso do nosso tema de hoje, porque se deixar, a gente expande e pode falar por dias sem parar, rs, como é que podemos pensar, organizar, articular para criar podcasts acessíveis?

Se você é um produtor de podcasts ou quer começar a produzir esse tipo de conteúdo, é imprescindível garantir que seu material esteja prontamente disponível para todos os ouvintes. Com deficiência ou não. E por isso, hoje tenho o prazer de estar ao lado do professor de comunicação da FAAP e podcaster Marcelo Abud, que busca esse comprometimento nos conteúdos que ele produz para os canais de alguns clientes a quem ele atende.

 

<ENTRADA ABUD>

>> Boa noite!

Agradeço a oportunidade de estar aqui para essa importante conversa. Algumas pessoas, quando falam do rádio, e portanto isso vale para podcast também, dizem que o áudio é ideal para quem não vê. No entanto, um saudoso produtor de jingles (aquelas músicas publicitárias que estão na cabeça de todos nós), o Sérgio Mineiro, dizia que “rádio não é para quem não enxerga, mas para quem imagina”.

Sendo assim, basta imaginar e tudo pode acontecer. O mais mágico é que o rádio e o podcast já nasceram interativos, porque quando criamos algum conteúdo, ele só faz sentido ao ser recriado na mente do ouvinte. Ou seja, se não houver essa ligação, essa conexão entre quem desenvolve o conteúdo e o receptor, não vai haver a comunicação por essa linguagem.

Outra máxima que felizmente não faz mais sentido, ou não deveria, é a de que o único público que não consegue entender o conteúdo do rádio é o surdo. Pensando na inclusão, já faz mais ou menos umas duas décadas que a USP criou um projeto chamado Rádio Surda (acho que hoje já não existe mais com esse nome). A ideia era aproveitar as possibilidades trazidas pela internet e oferecer, juntamente com o áudio, a transcrição daquele conteúdo.

Opa, já avançamos um pouco. Agora é possível o surdo imaginar também. Isso me lembra aquela música do Falamansa: “pra surdo ouvir, pra cego ver, Falamansa faz milagre acontecer”.

 

<inserção ELI>

Haha… É isso mesmo, Abud. Para saber tanto assim você deve produzir podcasts há bastante tempo, correto?

 

<resposta ABUD>

Eu produzo podcast desde setembro de 2005. Logo estou completando exatamente 15 anos nessa mídia. E como o podcast é rádio na internet, logo vem a sensação de que não há limite para a inclusão.

Pensando nisso, um passo importante foi justamente adotar a prática que comentei em relação à Rádio Surda, da USP. Ou seja, trazer juntamente com o episódio em áudio, a transcrição do mesmo. Nessa transcrição, a ideia é levar o leitor a imaginar todas as intenções previstas naquele podcast. Portanto, além das falas, o texto deve disponibilizar também os elementos da linguagem radiofônica explorados no áudio. Se tem uma trilha com uma intencionalidade x, eu devo escrever isso na transcrição. Se há ironia no tom de quem está falando, também.

A base para essa transcrição é o próprio roteiro que desenvolvemos para a gravação. Ok, ok, você está pensando que existe uma série de programas de rádio e de podcasts em que as falas acontecem de improviso. Mas mesmo essa fala, que parece natural, normalmente é planejada antes da pessoa gravar. Esse planejamento é, no mínimo, um roteiro mental. Especialistas da área, como o professor da UFRGS e escritor Luiz Artur Ferraretto chama essa fala coloquial - mas com começo, meio e fim - de improviso estruturado.

 

<inserção ELI>

Perfeito. A transcrição já é um pequeno passo para quem é podcaster, né?

 

<resposta ABUD>

Sim, Eli. Pequeno para o podcaster, mas um grande passo para a inclusão!

Mas podemos - e sempre que possível, devemos - ir além. Outro recurso que a internet permite é que o podcast tenha uma versão também no Youtube. Alguns fazem como em programas de rádio e transmitem inclusive a gravação do episódio, mas a maioria traz uma tela com a marca do podcast e o som do episódio. Se estamos no Youtube, com um conteúdo de áudio, podemos ter outros apoios e ampliar a inclusão. Que tal transmitir o que está no roteiro também em Libras? Sim, temos de pensar, - e confesso que eu só me atentei para esse fato recentemente, quando fizemos um podcast que falava sobre o ensino da Língua Brasileira de Sinais, - que há pessoas que são surdas e que tem como compreensão exatamente Libras e não a língua portuguesa.

E acredito que também é importante pensar, caso com a publicação do podcast haja um texto e uma foto, que seja feita a descrição dessa imagem, principalmente se ele complementar o que o áudio apresenta. Então, aí sim, completamos o refrão da música: “pra surdo ouvir e pra cego ver”. Aliás, como bem provoca desde 2012 a Patrícia Braille, que criou essa hashtag: “Pra cego Ver”. 

 

<inserção ELI>

>> É isso aí. Incluir acessibilidade no digital, além de lei, é algo muito mais simples de se fazer do que a grande maioria das pessoas imagina. E muito menos custoso, em termos de investimento de capital, também. Sem falar que, como eu disse, estamos falando de lei aqui - a LBI, a Lei Brasileira da Inclusão. Se todo mundo está se preocupando hoje em dia em deixar os canais em acordo com a LGPD, deveriam estar com a mesma preocupação - e pressa - em colocar em prática a acessibilidade nos seus canais digitais!

E aproveitando, rapidamente, o que você acabou de falar sobre a descrição de imagem com o uso da hashtag #PraCegoVer e #PraTodosVerem, tivemos um painel hoje, super bacana, com a Suzeli Damaceno, coordenadora do WPT, que falou sobre como e porque a gente deve descrever imagens no digital. Vale a pena buscar depois!

Bom, esse papo está bom, mas a gente tem um tempo limitado. Vamos pro lado prático da coisa agora? Mão na massa!

Anota aí no bloco de notas, e eu também tenho certeza que o pessoal do WPT vai disponibilizar vários links banacas no chat, as nossas DICAS DE COMO TORNAR SEU PODCAST ACESSÍVEL. Depois conta pra gente como foi esse processo de transição e adaptação, e o impacto positivo que a acessibilidade trouxe para o seu canal. Vamos lá!

 

1. FORNEÇA UM SITE ACESSÍVEL

Se os seus podcasts estiverem configurados em um site inacessível, algumas pessoas com deficiência podem não conseguir ou não querem encontrá-las ou usá-las, e você teria perdido uma grande audiência ao abrir a porta a riscos legais. Então, o primeiro passo é ter um site acessível.

– É preciso que tenha contraste suficiente entre as cores do texto e o plano de fundo;

– O conteúdo precisa ser acessado por leitores de tela e outras tecnologias assistivas;

– Todas as imagens precisam ter uma alternativa em texto;

– Tudo precisa ser navegável e operável por teclado, controle de voz e outros métodos além de um mouse;

– É importante que tenham alternativas para conteúdos, como áudio e vídeo.

 

<inserção ABUD>

2. FORNEÇA UM MEDIA PLAYER ACESSÍVEL

O media player que você escolher também afetará o quão bem, se for o caso, algumas pessoas podem reproduzir seu podcast.

Alguns dos itens que você precisa conferir:

– Os controles podem ser alcançados e eles funcionam com um teclado;

– Os controles são identificados claramente e podem ser lidos pelos leitores de tela;

– As opções de reprodução estão igualmente disponíveis para todos e os controles são ajustáveis, conforme necessário.


<inserção ELI>

3. FORNEÇA UMA TRANSCRIÇÃO

Indiscutivelmente, a consideração de acessibilidade mais importante para podcasts é fornecer uma transcrição de texto de todos os elementos de áudio. Isso significa mais do que apenas as partes faladas – inclui qualquer ruído de fundo, efeitos sonoros e outros componentes relevantes que acompanham a palavra falada.

É importante não confiar apenas nas transcrições geradas automaticamente, pois elas tendem a não ser totalmente precisas. Se você usá-las, lembre-se de editá-las para que você forneça um conteúdo de qualidade e confiança!

Uma sugestão é começar com o script de podcast, se disponível, e editar conforme necessário. Muitos produtores de podcast escrevem um script ou estrutura de tópicos para que ele tenha um excelente ponto de partida.

 

<inserção ABUD>

Abud cita o podcast do Instituto Claro

 

4. FORNEÇA LEGENDAS

 Alguns podcasts incluem um elemento de vídeo para que haja alguma mídia visual para acompanhar o áudio. Se o seu podcast for desse tipo, você precisará fornecer legendas ocultas.

Assim como nas transcrições, é importante que tenha legenda de todos os elementos de áudio no vídeo. Novamente, verifique se as legendas estão livres de erros e não confie apenas nas ferramentas de geração automática.

 

<inserção ELI>

 

5. OFEREÇA MÉTODOS ALTERNATIVOS

Por fim, você pode oferecer maneiras alternativas de salvar e reproduzir seus podcasts.

Ofereça sua série de podcast em um arquivo zip para que as pessoas baixem e ouçam da maneira que funcionar melhor para elas, talvez com seu media player preferido (XXXXX).

Faça o vídeo dos seus podcasts enquanto os lê, semelhante à forma como alguns programas de rádio populares podem ter uma versão em vídeo.

Algumas pessoas gostam ou podem seguir melhor o conteúdo quando também podem vê-lo.

Disponibilize seus podcasts com controles de voz, como o Alexa (XXXXXX).

 

<inserção ABUD>

Uma boa opção de acessibilidade para podcast é criar uma versão em Libras para o Youtube (um exemplo: 

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=3450040945063112&id=1483942038339689


<inserção ELI>

Perfeito. Ótimo exemplo. Bom, acho que é só tudo isso que a gente tinha pra falar aqui hoje. espero que esse evento maravilhoso e todos os painéis que aconteceram ontem e hoje sirvam para plantar uma semente em cada pessoa que ainda não foi contaminada pela prática da acessibilidade, e que cada um comece a repensar seus próprios perfis nas redes sociais, seus sites, seus produtos digitais, e-commerce, enfim, tudo o que envolve o mundo digital, para que a gente possa abrir espaço para todas as pessoas, sem excluir ninguém. Cobrem sites, páginas, canais de streaming, plataformas EADs, bancos… Cobrem para que estejam todos de acordo com a LBI. A partir do momento que a gente tem esse esclarecimento, não dá para desaprender, involuir. Conhecimento é poder, e que a gente use todos esses conhecimentos e aprendizados desses dois dias para fazer do mundo um lugar mais acessível, na vida física, e na vida virtual. Obrigada, pessoal!

#PraCegoVer #PraTodosVerem Montagem mostra homem do peito pra cima. Ele usa uma camisa amarela e é careca. Imagem aparece diante de detalhe de obra "Babel", do artista Cildo Meireles, que traz uma torre imensa formada por vários aparelhos de rádio de diferentes formatos e épocas. Os aparelhos estão ligados e suas luzes contrastam com o fundo azul claro.


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