Milton Bituca Nascimento e a história de "Morro Velho"

Milton durante turnê de "A Última Sessão de Música", em 10 de julho de 1922,
 em Veneza, na Itália (crédito: Marcos Hermes)


No documentário MILTON BITUCA NASCIMENTO, dirigido por Flávia Moraes, há muitas cenas incríveis e emocionantes. Cada qual parece a estrofe de uma composição à altura de “A Última Sessão de Música”, nome da turnê de aposentadoria do mineiro dos palcos, não da música.

Entre eles, destaco neste episódio do podcast Peças Raras (que pode ser acessado em qualquer plataforma ou no player abaixo) o momento em que a composição Morro Velho é declamada e comentada por artistas como Djonga, Djavan, Criolo e, entre outros, Mano Brown.

Sobre Morro Velho, lançada em 67 no disco de estreia, Travessia, Milton afirma: “A música e o cinema estão ligados. No meu caso, foi um filme de François Truffaut, Jules et Jim, que me inspirou a começar a compor. E cada canção, com ou sem letra, é uma história desenvolvida cinematograficamente, como parte de uma ou várias cenas dirigidas de forma espetacular”

Milton tem um carinho especial por essa narrativa, porque é baseada em uma história real que aconteceu na fazenda de uma tia de um de seus parceiros musicais, o Wagner Tiso. Ele costuma dizer que tem o sonho de ver essa música virar filme.

Então, imagina só o quanto Bituca deve ter se emocionado com essa cena do filme de Flávia Moraes?

Aqui, no Peças Raras, aproveito este momento de comoção gerado pelo filme para trazer um quase-filme. Um áudio dasérie que costumo chamar de Retrato Cantado e que produzi para o podcast do Instituto Claro em 2022.

É este áudio da série que chamo de Retrato Cantado que compartilho com você neste episódio.

Vale ler a letra de Morro Velho:

“No sertão da minha terra

Fazenda é o camarada que ao chão se deu

Fez a obrigação com força

Parece até que tudo aquilo ali é seu

Só poder sentar no morro

E ver tudo verdinho, lindo a crescer

Orgulhoso camarada

De viola em vez de enxada

Filho de branco e do preto

Correndo pela estrada atrás de passarinho

Pela plantação adentro

Crescendo os dois meninos, sempre pequeninos

Peixe bom dá no riacho

De água tão limpinha, dá pro fundo ver

Orgulhoso camarada

Conta histórias pra moçada

Filho do sinhô vai embora

Tempo de estudos na cidade grande

Parte, tem os olhos tristes

Deixando o companheiro na estação distante

‘Não me esqueça, amigo, eu vou voltar’

Some longe o trenzinho ao Deus-dará

Quando volta já é outro

Trouxe até sinhá mocinha para apresentar

Linda como a luz da lua

Que em lugar nenhum rebrilha como lá

Já tem nome de doutor

E agora na fazenda é quem vai mandar

E seu velho camarada

Já não brinca mais, trabalha”

Na foto do destaque, Milton durante turnê de "A Última Sessão de Música", em 10 de julho de 1922 em Veneza, na Itália (crédito: Marcos Hermes). Abaixo, veja outras destas imagens. 








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