Ana Maria Machado: 50 anos de produção literária são tema da abertura da Bienal do Livro do RJ
Ana Maria Machado durante entrevista ao portal do Instituto NET Claro Embratel (foto: Daniel Grecco) |
A 19ª Bienal Internacional do Livro começou nessa sexta (30), no Riocentro, com homenagem à escritora Ana Maria Machado, que está fazendo 50 anos de trabalho. Ela participou de um bate-papo no Café Literário da Bienal com Marcos Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). Em junho deste ano de 2019, gravamos com a autora, que tem uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, para o podcast do Instituto NET Claro Embratel (ouça aqui ou no player abaixo).
Ana Maria Machado é considerada uma das mais versáteis e completas escritoras brasileiras contemporâneas, com mais de 100 livros publicados no Brasil e em outros 17 países, superando a marca dos 20 milhões de exemplares vendidos. Sua produção literária, muito utilizada em sala de aula por textos questionadores e com temas importantes de serem abordados com as crianças, vai além da literatura infantil.
Infância
O estímulo para se tornar escritora veio ainda na infância. “Para eu ser uma leitora voraz, vim de um ambiente muito leitor”, define na entrevista exclusiva concedida ao podcast do Instituto NET Claro Embratel. A mãe trabalhou na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o pai foi jornalista. “Ele era chefe de redação e recebia todos os jornais em casa de manhã”, afirma, ao revelar que, com três anos de idade, já sabia diferenciar os periódicos.
Ana Maria Machado é a mais velha de nove irmãos e, além de crescer ouvindo histórias contadas pelos pais, também lia para os mais novos. O contato com a ficção continuava nas férias na casa de praia dos avós, em Manguinhos, no Espírito Santo. Ali, a família se reunia em torno de uma fogueira para compartilhar histórias.
O começo da produção literária vem com o convite para escrever na Revista Recreio. Em 1969, a autora se une a Ruth Rocha, Joel Rufino e Sonia Robatto para planejarem o “número zero” da publicação que se tornaria conhecida entre crianças de todo o país.
“Quando eu comecei a escrever, meu filho Rodrigo estava com dois anos. A primeira história publicada em Recreio é de um patinho que não queria nadar. Surgiu de uma brincadeira que eu fazia com ele na hora do banho”, revela ela ao explicar que as primeiras narrativas estavam ligadas a experiências do dia a dia.
Jornalismo e literatura
Com atuação na mídia impressa e no rádio, a autora considera que estas experiências a ajudaram a observar, ouvir, perceber, pensar e analisar, ou, em resumo, “a prestar atenção no mundo”: qualidades que ajudam na escrita. Mas ressalta que a literatura deve se distanciar do caráter efêmero do jornalismo. “Ela tem uma transcendência de outro tipo. Tem de ser suficientemente ambígua, quer dizer, ter muitos significados e cada vez se renovar. Cada leitura nova significa uma coisa diferente.”
Formação de leitores
Sobre como estimular crianças a ler, a ocupante da Cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras (desde 2003), acredita que o fundamental é o exemplo. “Se o pequeno vê um adulto lendo, ele tem vontade de ler. Não adianta mandar ler. Os mais novos querem comer com garfo e faca, porque veem o pai e a mãe fazerem isso. Então, como fazer uma criança ler? Pelo exemplo!”
Literatura para todas as idades
No áudio, você conhece mais detalhes da vida e obra da escritora e ouve detalhes sobre algumas das publicações dela voltadas ao público adulto, como “Infâmia” e “Tropical sol da liberdade”, além de saber um pouco mais sobre os próximos capítulos. Ainda neste ano de 2019, devem ser lançados dois títulos novos: um de poemas para crianças, “Brinco de listas”, e outro ainda sem nome, com poemas “mais filosóficos”, segundo a autora.Ainda na conversa, ela comenta sobre o período em que foi detida e acabou se exilando, durante a ditadura, quando lecionava em escolas e faculdades.
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