Transcrição: Sergio Vaz fala sobre a importância do Sarau da Cooperifa no podcast Pois É, Poesia

O poeta Sergio Vaz, criador do Sarau da Cooperifa também foi ouvido para a transmissão do podcast Pois É, Poesia que teve como tema "Sarau: a poesia do coletivo". 

Confira a entrevista abaixo e, na sequência, a transcrição da conversa. 


Reynaldo Bessa:

Sergio Vaz rima poesia com periferia há mais de duas décadas. É o idealizador, junto com Marcos Pezão, de um dos principais espaços em que pessoas do povo tomam conta da literatura: o movimento cultural Cooperifa.

Segundo o poeta, transformar um bar da periferia de São Paulo em sarau fez com que a poesia descesse do pedestal para beijar os pés da comunidade; e com que a literatura se despisse da arrogância para chegar às pessoas.

A equipe do Pois É, Poesia foi à Biblioteca Mario de Andrade, no centro de São Paulo, e conversou com o agitador cultural Sergio Vaz. A reportagem é de Marcelo Abud e a gravação em vídeo, de Erika Nascimento.

Acompanhe!

 

Marcelo Abud:

O que que você quer dizer quando você diz que o sarau não é um evento. É um movimento.

 

Sergio Vaz:

Bom, primeiro, satisfação, né? Mas eu acho que a Cooperifa... a ideia da Cooperifa não era criar poetas, era criar leitores, criar leitoras, em que a palavra fosse um instrumento de cidadania que pudesse libertar as pessoas desse quadro em que nós estamos vivendo. E infelizmente estamos vivendo esse quadro.

Então, assim, não era um lugar para você ir lá tirar onda. Era um lugar de acolhimento, é um terreiro, uma igreja. É uma ágora. É um lugar para a gente sentar aqui, trocar afetos, debater, trocar ideias.

Agora, o bar, na época, quando o Pezão e eu criamos o bar era o que tinha, o único espaço público que tinha. Então coube a nós ressignificar. Depois, outras pessoas vieram e continuam no bar e essa ideia simples foi se espalhando. Então acho que o bar... é ressignificar qualquer lugar. No nosso caso era o bar. Mas às vezes tem uma praça ali que está desocupada e que se ligar o fio ali, ligar o microfone, a molecada faz poesia.

É, você tem o sarau, você tem os slams, você tem as batalhas de rima. O que é bom nisso? É a palavra, a oralidade, é as pessoas se reunindo. Hoje em dia, com o advento das redes sociais, cada um tá na sua casa pensando em si próprio. Então, você criar momentos em que as pessoas possam se reunir para trocar ideias, trocar afetos, trocar informação, trocar poesia, porque o sarau, saraus, é assim, eu faço a gentileza de falar e você faz a gentileza de ouvir. Nessa troca de gentileza entra a literatura. Então é uma estratégia assim. Eu acho que o futuro é isso. Talvez ele se transforme – os slams, as batalhas - se transforme, mas ainda assim é a palavra que está dominando.

 

Marcelo Abud:

Tem alguma poesia sua que você considera que resume o que é o sarau, que representa o sarau?

 

Sergio Vaz:

O Sarau da Cooperifa é quando a poesia desce do pedestal e beija os pés da comunidade.

 

Marcelo Abud:

A gente tá aqui num evento “O que pode a criação literária?”. Transportando para o universo dos saraus, o que pode o sarau?

 

Sergio Vaz:

Pode tudo, pode fazer a revolução. Eu acho que tem entendimento das pessoas que frequentam ali e a partir dali fazer algo que mude aquele lugar, que transforme as pessoas. Por isso que eu falo sempre, não é um evento, não é ali para bundalelê, não é para exercitar a vaidade do poeta, é pensar de como que a gente pode usar a palavra, esse código tão difícil que é a literatura, para que as pessoas brilhem ainda mais do que são, para que entendam, para que as pessoas que sofrem, entendam porque elas são as pessoas que sofrem.

Então, quando eu digo isso, é sobre esse aspecto. É a gente fazer algo que engrandeça a nossa consciência, nos faça ter atitudes melhores. Consciência é tudo. Então eu acho que consciência e atitude tem que ser sério no que faz. Então não era um lugar pra gente ir... era pra festejar, lutando. Não é um movimento apenas pras pessoas irem tomar cerveja e, por acaso, ouvir poesia. É para ouvir poesia e, depois, tomar cerveja.

 

Reynaldo Bessa:

Maravilha, maravilha! “Eu faço a gentileza de falar e você faz a gentileza de ouvir”, palavras do poeta Sergio Vaz. E é isso mesmo, gente, porque não existe nada pior pro artista – papel já difícil de falar poesia, de mostrar a sua poesia – e o barulho, num lugar aonde a gente não consegue se ouvir e isso é terrível.

Então, o silêncio faz parte de todo o processo também do sarau, do sarau que se preza, enfim. Tá certo? Eu participei das edições do sarau da Cooperifa já faz um tempo e foi muito bacana, fui muito bem recebido pelo pessoal, pelo Sergio Vaz, inclusive, foi bem bacana, uma noite bem bacana mesmo.


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