Transcrição: Jô Freitas indica livro Terreno Baldio: poesia e outras quebradas, no podcast Pois É, Poesia: Arte no Plural
Momento sempre muito aguardado pelos apaixonados pela Literatura: a dica de leitura do Pois É, Poesia: Arte no Plural. E para isso, neste episódio, contamos com a escritora e poeta JÔ FREITAS. Ela indica o livro "Terreno Baldio: Poesias e Outras Quebradas", do coletivo Pretas Peri. A obra traz poesia das ruas, musicalidade negra, poesia periférica/marginal. Um destaque da obra é o microfone aberto, um convite para aquela pessoa que quer escrever. Jô Freitas é escritora e finalista do Prêmio Jabuti 2024, um dos mais prestigiados prêmios da literatura brasileira, com seu primeiro livro de contos Goela Seca. Ao longo de sua carreira, realizou diversos projetos fora do Brasil, como no Equador, Peru, Moçambique e África do Sul. Foi premiada com o Troféu Baobá de Literatura (2021), Fade to Black (2020), e o Prêmio Suburbano Convicto na categoria Poeta da Periferia (2019). Jô é idealizadora do Sarau Pretas Peri e do Sarau Lima e os Novos Barretos. Também realiza sua própria oficina de escrita criativa em Cenopoesia, onde compartilha seu conhecimento narrativo e oralidade com os participantes.
Acompanhe a transcrição:
(Vinheta cantada)
Reynaldo Bessa:
Esse momento aqui é, como eu costumo dizer, muito especial,
né? A dica de leitura, momento sempre muito aguardado pelos apaixonados pela
leitura. A dica (essa dica do programa de hoje) quem vai fazer é a Jô Freitas.
Jô Freitas é escritor e finalista do Prêmio Jabuti 2024, um
dos mais prestigiados prêmios da literatura. Sim, com o seu primeiro livro de
contos, Goela Seca. Ao longo de sua carreira, realizou diversos projetos fora
do Brasil, como no Equador, Peru, Moçambique e África do Sul. Foi premiada com
o Troféu Baobá de literatura 2021, Fade to Black (2020), e o Prêmio Suburbano
Convicto na categoria Poeta da Periferia (2019).
Além disso, foi palestrante no TEDx Campinas 2020. Jô
também se apresentou em eventos com artistas renomados como Mano Brow – opa! - no
Troféu Raça Negra e Monja Cohen.
Ela é idealizadora do Sarau Pretas Peri e do Sarau Lima e
os Novos Barretos. Com grande destaque na literatura brasileira, especialmente
através dos saraus, é uma participante assídua das oficinas de Marcelino Freire
– olha, falava nele aqui agora, grande amigo do coração, Marcelino Freire.
Também realiza sua própria oficina de escrita criativa em
Cenopoesia, onde compartilha seu conhecimento narrativo e oralidade com os
participantes.
Atualmente, Jô Freitas está cursando Biblioteconomia e
Ciência da Informação na FESPSP (nossa, quanta letra...). Além disso, ela
circula nas escolas públicas com o projeto Lugar de poesia é em todo lugar,
oferecendo palestras e incentivando o acesso à poesia.
FESPSP, esse é o correto, agora sim. Certo? Então vamos lá.
Vamos lá para dica de leitura. É agora...
Jô Freitas:
Salve, salve. Quero aqui cumprimentar o Reynaldo Bessa por
esse convite de poder partilhar minha indicação de leitura.
Eu trago comigo “Terreno Baldio, poesia de outras quebradas”,
que é uma antologia poética do Sarau Pretas Peri, que completou 10 anos de
existência em 2024 e que teve a honra de celebrar com a publicação desse livro.
Um coletivo que teve origem na zona leste de São Paulo e agora circula vários
outros espaços. Nessa antologia tem poesias de Lu Silva, Taison Zig, Jéssica
Marcele, Tywy Pataxo e eu também faço parte dessa antologia com muita honra. É um
livro que ele traz a mesma estrutura de um sarau. O sarau que tem o microfone
aberto. Aqui nesse livro também tem um microfone aberto, certo, que é um espaço
para nossos leitores, né? Para as pessoas leitoras poderem escrever. Então eles
sempre têm um disparador de pergunta, e você também, além de ler o livro, você
pode também arriscar e escrever. Então a ideia é que o sarau venha um pouco
para o impresso.
E esse trabalho, esse livro, ele teve uma entrega gratuita
em várias escolas de São Paulo. Está circulando, porque ele auxilia também
nessa formação, nesse processo de formação desses jovens que têm muita coisa
para dizer e ainda não sabe como. Então a gente também entende que a leitura é
um processo de amadurecimento. Então por isso que eu indico ele.
Ele foi publicado pela Fala e eu quero ler aqui uma
poesia da Jéssica Marcele, que é atriz, compositora e faz parte dessa antologia.
Ela fala muito sobre escrever, né?
“Escrever é tipo curar. É tipo cutucar ferida que parece
estar cicatrizada, mas por dentro está inflamada e cheia de pus. E eu pus todas
as dores acumuladas no machucado que não sangra mais e que band-aid já não
cobre. Eu cobrei de mim todas as incertezas e inseguranças. Eu cobrei cada
centavo da lágrima que caiu porque eu tinha que guardá-las no meu cofrinho e
ele quebrou. Esparramou espatifou, despedaçou a única riqueza que eu ainda
tinha aqui dentro e que seguro nenhum cobre, porque cobre é a mistura de ouro e
prata com a falta do bronzeado. Eu cobri medo, choro, eu cobri todo mundo no
meu abraço e com as costas descobertas, eu passei frio. Acobertei um passado
que me descobriram. Estrofe linha verso e prosa, narrativa e dissertações,
rimas e melodias, registros e escritas. Mas se eu passar tudo para o papel, não
sobra nada na minha estante. Num instante tudo vira pó e eu já até acostumei a
acumular poeira e a cada faxina tem uma nova sujeira. Se o corpo é a casa da
alma, serei diarista a minha vida inteira”.
Então deixo vocês com esse poema aqui da Jéssica Marcele, uma
das pessoas dessa antologia.Espero que vocês gostem, a minha indicação é cheia de carinho e meu abraço a vocês, viu?
Tchau, tchau.
Reynaldo Bessa:
Jô Freitas, nós que agradecemos o Pois É agradece a sua
dica de leitura. A dica de leitura é a menina dos olhos do Pois É, Poesia.
Na visão da coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura 2024, a
socióloga Zoara Failla, ela disse que as quedas percentuais daqueles que
leem em salas de aula – olha só, gente! - de 23% caiu para 19%; as bibliotecas,
de 20 % para 14% ou no transporte, coletivo, enfim, quando vai trabalhar,
voltando... de 11% para 7%.
Segundo Zoara, não se devem especificamente à perda da cultura de ler em
lugares para ler. Ela disse que não é necessariamente porque deixa de ler na biblioteca.
Ela disse que, na verdade, dizem respeito à queda no interesse dos leitores
pela leitura de livros em geral. Perda de interesse, né?
Ou seja, o livro e a leitura perdem o seu valor simbólico. A primeira
causa apontada para esse afastamento do livro e da leitura é a falta de tempo, entre outras. Tá certo?
Então por isso que a gente sempre traz essa dica de leitura. Valeu, obrigado Jô
Freitas. Parabéns pela dica.
(Vinheta
cantada)
Pois é, pois é poesia. Poesia.
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