“Um livro tem que ser um espelho, onde o leitor se veja lá dentro, principalmente para o ser humano em desenvolvimento”, afirma Pedro Bandeira

 



Em outubro, mês das crianças e de professoras e professores, o Pois É, Poesia: Arte no Plural escreve mais um capítulo dessa história. O enredo gira em torno da “Literatura infantil/juvenil e o fabuloso mundo da leitura”. A edição completa de 2 horas, com diversas entrevistas, pode ser acompanha neste link ou diretamente no player abaixo:

Um dos protagonistas desta edição do programa, apresentado por Reynaldo Bessa, é o escritor, jornalista, pedagogo e ator Pedro Bandeira, homenageado como a personalidade literária do Prêmio Jabuti em 2023.  

Na conversa, Bandeira revela que, para se comunicar com as crianças alfabetizadas, mas que ainda não são letradas usa textos em forma de versos. Ele ressalta que o verso feito para uma criança não pode ser como se um velho estivesse falando com o leitor. “Então eu faço sempre na primeira pessoa, como se fosse o meu leitor, tivesse 7 anos, 8 anos, 6 anos, 5 anos. Aquilo que ele sente, quais são suas emoções, as suas aspirações. Não é?”.

Na sequência, o escritor responde à pergunta feita pelo advogado Paulo Trani, pai de Carmela, de 6 anos, que quer saber como fazer para que a criança não seja sugada pela tecnologia nos dias de hoje. Trani estava na livraria infantil “Pé de Livro” quando foi entrevistado. É a pista que Pedro Bandeira precisava para afirmar que o pai está criando bem a filha, deduzindo que tenha lido historinha desde quando ela estava no berço.

Nesse ponto, o premiado autor defende que a escola não pode ser a responsável por todo processo de encantamento pela literatura. A instituição apenas dá continuidade ao hábito que deve começar na família. Mas aponta que não é isso que tem acontecido.

Sobre as tecnologias propriamente ditas, ele opina que “a rede social não trata do sonho, geralmente trata da realidade” e que as crianças vivem em um mundo de fantasia. Por isso, é papel dos adultos oferecerem alternativas para que não fiquem no computador ou celular. “A criança menor, no máximo, ela pode brincar com o celular ou computador. Mas acho que o principal celular e computador enquanto a criança é pequena é a voz da mamãe, é a voz do papai, tá? (...) O colo é o primeiro ‘aparelho’ que tem que se oferecer pra criança”.

Apesar de ser um defensor dos livros e dos contos de fadas, no entanto, aponta que também é um problema se a criança ou o adolescente ficar em seu quarto apenas lendo. “Ela precisa ler, claro. É bom que ela tenha um diário, que ela seja capaz de escrever alguma coisa que viu, mas que ela também brinque. Você não pode fechá-la em uma coisa só. E elas estão se fechando nas redes sociais e no computador e no celular, porque a gente não está dando outras opções”.

Sobre o melhor livro para adotar na escola, Bandeira diz que a leitura deve espelhar o momento de cada leitor ou leitora. “Um livro tem que ser um espelho, onde o leitor se veja lá dentro, principalmente para o ser humano em desenvolvimento”, afirma. E segue, “você não pode dizer ‘esse livro é importante e as crianças têm que ler!’ Não, os livros não são importantes, os livros são adequados para ajudar o treinamento, dar conhecimento da língua portuguesa para essa criança chegar a pelo menos à terceira, quarta série sendo capaz de ler qualquer livro. No fim do ensino fundamental, ela tem que ler muito bem. Ela já é capaz”.

Para professoras e professores, um recado afetivo: “Dê o livro que é importante para o desenvolvimento emocional e para o letramento do teu aluno. O livro não é tão bom quanto “Dom Casmurro”. Nenhum é tão bom quanto “Dom Casmurro”. Então o livro inadequado para a idade, isso faz a criança dizer, ‘Ai, como ler é chato’. Mas muitas vezes ele diz que ler é chato porque ele está lendo – mal entendendo. Ele não fala ‘Ah, eu sou um mau letrado’, ele diz, ‘Ah, leitura é chata, leitura cansa’. Por quê? Porque ele não treinou leitura, não foi letrado”.

Texto de Pedro Bandeira no livro "Esses Bichos Maluquinhos" (editora Moderna)



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