Transcrição: Arthur Major revela detalhes da Casa Mário de Andrade


 A 7ª transmissão ao vivo do podcast Pois É, Poesia: Arte no Plural (que você pode conferir aqui) contou com a participação do educador do museu Casa Mário de Andrade, Arthur Major. Acompanhe como foi a conversa no vídeo abaixo e, também, com a transcrição da entrevista. 


(Vinheta) Pois é, pois é. Pois é, poesia. Poesia há. Ou não.

 

Reynaldo Bessa:

O episódio do nosso podcast conta agora com a participação de Arthur Major.

Arthur Major é graduado em História pela Universidade de São Paulo (USP) e mestrando em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pesquisa focada em relações étnico-raciais, gênero e sexualidade na obra de Mário de Andrade.

Trabalha na Casa Mário de Andrade desde 2019, atualmente é pesquisador do Centro de Pesquisa e Referência do museu.

Arthur Major querido, por favor, sinta-se em casa. A casa é sua, não a Casa Mário de Andrade, aqui o Pois É... a casa do Pois É, Poesia é sua. Seja muito bem-vindo.

 

Arthur Major:

Muito obrigado, Bessa. Agradeço muito o convite. Estou muito feliz de estar aqui espalhando a palavra de Mário de Andrade, né, como os meus colegas.

 

Reynaldo Bessa:

Ótimo. Você tem uma pesquisa na obra de Mário de Andrade com temas relações étnicas, raciais, gênero e sexualidade. Conta um pouco pra gente sobre essa pesquisa.

 

Arthur Major:

Bom, essa pesquisa ela nasceu do meu trabalho na Casa Mário de Andrade, né, e das discussões contemporâneas em torno de temas como raça, gênero e sexualidade, que vem crescendo muito na academia nos últimos 20 anos e vem ganhando grande destaque. E essa é uma área que até então ela ainda é pouco explorada na obra e na vida do Mário de Andrade, né? Tem poucas dissertações, poucas teses, poucos estudos que se detém exatamente sobre isso, né? E os que têm, eles são muito recentes. Por exemplo, a gente tem a tese magnífica da professora Ângela Teodoro Grillo, sobre raça na poesia do Mário de Andrade, que é de 2016. A gente tem, por exemplo, a tese do Jorge Vergara sobre homoerotismo e homofobia na recepção da obra do Mário de Andrade, que é de 2018, se eu não me engano, né? Então, são temas ainda muito recentes no estudo da obra do Mário de Andrade e eu fui tomando contacto com isso e com as minhas pesquisas fui descobrindo outras coisas também e fazendo algumas conexões. E aí foi surgindo um pouco daí desse trabalho cotidiano também com o público que visita o museu e que faz perguntas, questionamentos. traz informações novas.

 

Reynaldo Bessa:

É, e o Mário era uma figura muito reservada, né? Não expunha muito esse lado. Enfim, né, para quem pesquisa já sabe, para quem é leitor do Mário sabe, né? Ele tem, inclusive um personagem misterioso nas biografias que você deve ter chegado no ponto que é o H. Ele troca cartas, enfim. E muito bacana, muito bacana essa pesquisa, eu estou curioso se você de repente tiver... pra ter mais acesso a esse material, faço questão, com o maior prazer de ler.

Sobre a Casa Mário de Andrade, o que, ainda do original, o museu Casa Mário de Andrade mantém? Nas biografias que que li recentemente, falam de um pequeno oratório barroco rococó, a escrivaninha e três estantes desenhadas pelo próprio Mário, a cama de solteiro e, por último, fonógrafo. Essas coisas ainda existem, Arthur?

 

Arthur Major:

Então, Bessa, a Casa Mário de Andrade ela fica no antigo sobrado que o Mário viveu. Recentemente, ela passou por uma ampliação, porque esse sobrado que o Mário viveu ali na Rua Lopes Chaves, no bairro da Barra Funda, ele fazia parte de um conjunto de três sobrados geminados que foram construídos, né, e vendidos para a mãe do Mário de Andrade. Então era onde a família vivia, nesse grande complexo. E agora os três sobrados foram unidos e o museu ele dobrou de tamanho.

Mas a coleção do Mário de Andrade e boa parte das coisas que haviam na casa do Mário de Andrade, elas saíram desse lugar em 1968. Então, só pra gente colocar numa cronologia, o Mário morreu em 45. A sua mãe, Maria Luiza, ainda era viva, bem idosa e a sua tia madrinha também, elas continuaram vivendo na casa. Morreram alguns anos depois. A irmã caçula do Mário de Andrade, depois, foi morar lá com seu marido e filhos. E ficaram cuidando desse imenso acervo que o Mário de Andrade deixou na casa. Até que em 68, eles decidiram doar essa coleção do Mário de Andrade para a USP e está lá até hoje, no Instituto de Estudos Brasileiros, da USP, sendo muito bem cuidado, muito bem pesquisado, né? E a casa passou por muita coisa até que ela só se tornou o museu Casa Mário de Andrade em 2018. Então é um processo muito recente. O que a gente tem de acervo efetivamente, assim, que é relativo ao Mário de Andrade, vem diretamente do Mário de Andrade. São alguns móveis que estão no térreo da casa, que é, por exemplo, o móvel da entrada da casa, do vestíbulo, o móvel da sala do piano, o móvel da sala de estudos. Nós temos o piano original, onde Mário de Andrade dava as aulas dele, né, as aulas de piano e alguns objetos pessoais do Mário de André que é a família doou depois, como óculos, uma forma de sapato, uma carteira, uma medalha de Nossa Senhora Aparecida, né? Então, efetivamente, a gente tem um acervo musicológico bem pequeno.

Agora nós estamos com uma exposição na Casa, que se chama “Estudo de uma Vida”, que é uma exposição de móveis, que são os móveis que estavam no estúdio do Mário de Andrade que foram para IEB-USP. Então agora na casa a gente está com o oratório barroco que você falou, a escrivaninha, o divã, a poltrona. Alguns desses móveis, inclusive, desenhados pelo próprio Mário de Andrade. Porque, além de tudo, ele também desenhava móveis, desenhava roupas, e outras coisas, né?

Mas o importante de dizer sobre esse processo de doação, do acervo do Mário de Andrade pra USP, é que ele não veio do nada. O Mário de Andrade, antes de morrer, ele deixou uma carta-testamento, pedindo para a família dele que as suas coisas fossem doadas para instituições públicas, porque ele acreditava que ele não colecionou aquilo para si mesmo ou para a sua família, como propriedade privada, ele se considerava apenas um salvaguarda do patrimônio brasileiro e a família respeitou esse desejo.

 

Reynaldo Bessa:

Sim, tá, no IEB, tá em boas mãos, tá no lugar certo pra dar segmento a essas pesquisas aí sobre o Mário de Andrade, para que as pessoas possam conhecer mais o Mário. Você assumiu em 2019, não é isso? Estava aqui na sua... E você manteve assim, agora criou os cursos? Criaram alguns cursos, algumas oficinas, como é que é?

 

Arthur Major:

Então eu entrei em 2019 como educador do museu e fui educador até 2023, Então eu recebi visitantes que visitavam o museu para contar a história do museu, contar a história do Mário de Andrade. Fiz oficinas, visitas com escolas, tudo isso que os educativos de museus e instituições culturais fazem, que é um trabalho importantíssimo. Aí depois disso eu entrei para a programação cultural, comecei a elaborar os cursos, as oficinas, né? Mais na parte das palestras, cursos etc. E agora estou no núcleo de pesquisa.

Então estou atuando com o setor de acervo do museu, com as exposições. Por exemplo, nós temos uma exposição que foi inaugurada agora em novembro, que é para nós uma exposição muito especial, que é “Eu mesmo, Carnaval, uma exposição sobre Carnaval muito interessante que eu tive a honra de ser curador. E fazendo pesquisas pro museu, pesquisando sobre acervo e também atuando na curadoria também da programação, pensando o que que Mário de Andrade gostaria que nós podemos fazer que honraria a memória do Mário de Andrade?

 

Reynaldo Bessa:

Maravilha, parabéns. É um belo trabalho. Eu queria te fazer uma última pergunta e uma pergunta bem, mais pra falar um pouco mais sobre a Casa, que é o nosso, praticamente o nosso assunto aqui central.

O que um visitante, principalmente um leitor de Mário de Andrade, enfim, vai visitar a Casa não pode deixar de fazer ao visitar o museu Casa Mário de Andrade.

 

Arthur Major:

Essa é uma pergunta boa. O Mário de Andrade amava muito aquela casa e ele escreveu muito sobre ela. Então você tem contos, crônicas, poesias, né? Então ele tem uma relação muito, ele tinha uma relação muito umbilical com a casa e com a família dele. No final das contas, ele era um homem muito caseiro. Apesar de ter viajado muito, ele falava que ele gostava de viajar, ele se sentia impelido a fazer isso por essa missão que ele tinha, né? Mas ele era um homem muito caseiro. Então eu acho que é, eu diria que para a pessoa que visitar a casa Mário de Andrade e entrar naquele espaço onde o Mário de Andrade viveu, trabalhou, onde todas aquelas pessoas da família dele também viveram e trabalharam, sentir um pouco a atmosfera de tentar entrar nesse ambiente, sentir um pouco dessa energia que muita gente fala, né, que sente essa energia quando entra na Casa, quando vê o piano onde o Mário dava aula, observa as fotografias antigas da casa, as filmagens que mostram como a Casa era por dentro, os textos em que Mário fala sobre a Casa. Realmente curtir o Museu, né? O museu ele não é um espaço só de você produzir intelectualmente, ter profundas reflexões. O museu também é um espaço de convivência, de lazer. Então você pode simplesmente entrar na casa para tomar um café no nosso delicioso Café, comer um pão de queijo, conversar com a gente. A gente sempre está lá e disposto a conversar... O educativo, eu, toda a equipe, né? Curtir as nossas exposições, que apesar de pequenas e simples, são muito bem cuidadas, muito bem-feitas e viver essa experiência.

 

Reynaldo Bessa:

Está certo, é antes de tudo, uma casa, de Mário de Andrade, mas é antes de tudo uma casa, então... Arthur querido, muito obrigado, Arthur major, pela tua contribuição, por estar com a gente, por falar sobre a Casa. Eu falei que fui uma vez só, agora com essas biografias todas, voltando a ler, eu estou muito no clima, vou captar essa atmosfera que você falou que eu acho que é o mais importante, sim, se não, não captar essa atmosfera não é legal, tem que ser para sentir realmente como que é. Tá bom? Muito obrigado. Sucesso aí na Casa, sucesso aí nas tuas empreitadas, seus projetos, está certo?

 

Arthur Major:

Muito obrigado, Bessa.

 

Reynaldo Bessa:

Valeu, querido.

 

(Vinheta) Pois é, pois é. Pois é, poesia. Poesia há. Ou não.

 

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