Museu Virtual do Rádio e da TV: uma viagem pela Difusora Jet Music e o rádio musical nos anos 70
Plenimúsica e Factorama – a fórmula do rádio
jovem ainda em AM
Ainda nos anos 60, os bailes mais animados passam a ser
embalados pela Jovem Guarda. Para curtir a versão brasileira do iê, iê, iê com
Roberto, Erasmo e Wanderléa, as mulheres usavam o penteado coque banana e batom
vermelho e os homens, calça de barra dobrada e vinco bem marcado.
O estilo de rádio musical que vai virar febre entre esses
jovens tem início em Belo Horizonte, como nos conta o autor do livro
“Plenimúsica – Memórias de um Ouvinte de Rádio Malcomportado”, Luiz Eduardo de
Melo e Silva, o Edu Malaveia.
O formato plenimúsica e factorama atravessa os anos 70 e,
na Difusora de São Paulo, a voz mais marcante é a de Darcio Arruda.
O rádio jovem em AM tem representantes em todas as partes
do país. No Rio de Janeiro, por exemplo, o comando era de Big Boy, na Mundial,
emissora do Grupo Globo.
Depoimento de Edu Malaveia sobre o pioneirismo da Rádio Mineira na implantação do sistema Plenimúsica/Factorama:
"Quando criança, meu brinquedo preferido era uma Rádio Vitrola. Eu mal sabia falar e já saia cantando as letras dos discos que eu tinha.
Até que lançaram o rádio musical no Brasil. O rádio que só tocava músicas foi
uma ideia que o José Mauro, irmão mais novo do cineasta Humberto Mauro, havia
trazido de fora, que nasceu como uma alternativa do rádio à competição da
televisão. E eu achei aquilo muito interessante. Eu vi minha mãe comentar com
meu pai e passei a me interessar pelo rádio e escutar, no caso, aqui em Belo
Horizonte, a Rádio Mineira que era a musical daqui. As primeiras rádios musicais
foram a Tamoio, no Rio de Janeiro, a Difusora, em São Paulo, e a nossa Rádio Mineira, aqui em Belo Horizonte. Todas dos Diários e emissoras Associadas que
tocavam música, exclusivamente música. Então eu escutando essa rádio
musical, no caso aqui a Rádio Mineira, eu acabei sendo picado por uma mosca,
que me fez interessar definitivamente pelo veículo rádio.
As rádios musicais inicialmente tinham o seguinte formato,
elas intercalavam uma música com um comercial, até que o José Mauro, inovando
mais uma vez o rádio musical, trouxe dos Estados Unidos o formato four play,
que ele adaptou inicialmente na Rádio Mineira, de Belo Horizonte, com o nome de Plenimúsica, que eram os blocos musicais separados dos blocos comerciais. A
rádio ficava mais agradável de ouvir, pois dava a impressão de tocar mais músicas
por hora e até hoje todas as emissoras musicais adotam os blocos separados, os musicais e
os breaks comerciais. A Rádio Mineira, aqui em Belo Horizonte, fez um enorme
sucesso, até que depois de 3 anos, a Plenimúsica e seu noticiário de hora cheia "o mundo acontecendo em Factorama" foram transferidos para São Paulo. Os mais de
20 jingles maravilhosos foram clonados e alternavam nos no meio dos breaks
comerciais".
Darcio Arruda relembra da Difusora:
"Tudo começou quando eu conheci o Cayon Gadia em 68, mais ou menos ou antes disso, o Cayon, visionário do rádio, naquela oportunidade, era chefe da discoteca das Associadas e o esquema que estava no ar era o Plenimúsica. Plenimúsica tocava um quarto de hora todinho de música, emendando, aí vinha o comercial dos 15, dos 30 e dos 45 (minutos), e na hora cheia "o mundo acontecendo em Factorama". Aí quando eu conheci o Cayon, eu estava na Rádio Cacique de São Caetano do Sul, e ele me fez o convite para ir trabalhar ainda no Plenimúsica como jornalista. Eu comecei como Rádio Escuta e descia para o estúdio de hora em hora, justamente para dar "o mundo acontecendo em Factorama". Aí um belo dia nós estávamos saindo, atravessando Alfonso Bovero e o Cayon me confidenciou do plano do projeto dele de colocar no ar o que seria revolucionário não só em termos de conteúdo, como pela operacionalidade que seria imprimida no ar, seria colocada no ar de uma maneira assim historicamente diferente. Nada tinha sido feito nesse sentido, né?
Existem dezenas de detalhes na programação do Plenimúsica, como por exemplo, a contagem dos segundos finais da música que tava terminando, com a contagem dos segundos iniciais da música que tava começando, e a gente fazia uma somatória dos finais e iniciais e obtínhamos, por exemplo, 14 ou 15 segundos. Era exatamente neste espaço de tempo, com ajuda logicamente de um cronômetro em cima da mesa do estúdio, que nós aproveitávamos para anunciar e desenunciar a música ou as músicas e para colocar também os textos foguetes. E comercialmente falando, foi uma novidade da Difusora. A gente vendia estes textos foguetes (comerciais de curtíssima duração, entre 5 e 10 segundos aproximadamente) entre as músicas. Ou seja, a emissora não perdia um minuto sequer da programação e ainda o departamento comercial tinha tempo suficiente para ser veiculado. E existem outros detalhes na programação, como começar a hora cheia sempre com uma música internacional e de Balanço e depois cair para a segunda mais melodiosa e ter sempre a Música Popular Brasileira também, de uma fina casta, né? E também nos sábados os shows especiais das 19:00, os lançamentos dos LPS das GTA das gravações Tupi Associados que fizeram muito sucesso.
Enfim, foi uma época de ouro do rádio AM, uma visão já do que seria o futuro do FM em São Paulo e no Brasil que nós tínhamos na época. A gente não pode deixar de citar a Rádio Excelsior com o nosso companheiro Antônio Celso também fazia um rádio muito bonito, um rádio diferenciado, mas pra concluir, Difusora e Excelsior nesta época, durante mais ou menos uma década, foram líderes de audiência na juventude, rádios modelos para as outras emissoras do Brasil todo. Eu tive a honra e o prazer de compartilhar com uma equipe maravilhosa de discotecários, de programadores, de sonoplastas, enfim, amigos inesquecíveis. Eu cada vez que fecho o olho e penso em mim mesmo, eu me reporto a essa época. E eu acho que é com isso que eu vou me eternizar em termos profissionais; que nada que a gente faça agora, por mais caprichado que a gente faça, nós jamais atingiremos o que a gente conseguiu naquela época".
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