Após 15 anos longe dos estúdios, Reynaldo Bessa lança seu novo álbum "O futuro que me alcance"
Releitura para “Na Hora do Almoço”, de Belchior, está entre as 9 faixas
Na última década e meia, Reynaldo Bessa se dedicou intensamente à literatura. Poesia, contos e romances estão na bagagem do artista. Com o primeiro livro publicado, “Outros Barulhos – poemas” conquistou o Prêmio Jabuti, na categoria poesia, em 2009. O mais recente, “A Noite além de Escura”, lançado ano passado, reúne contos em prosa poética.
Oito livros e seis CDs depois, o potiguar volta a gravar composições inéditas em estúdio. Não é que tenha deixado a música de lado ao longo desse período, mas o contato com o público ficou restrito a apresentações em shows. Foi em 2018, em temporadas no Brazileira e no Bar Brahma, ambos em São Paulo, que o artista passou a contar com o acompanhamento da banda “Os Psicodélicos da Tia Lalinha”. A partir daí músicas inéditas ganharam uma sonoridade diferente dos trabalhos anteriores lançados por Reynaldo Bessa.
O resultado pode ser conferido em “O Futuro que me Alcance”, que traz 8 faixas autorais, uma delas – Plural - em parceria com Paulo Cesar de Carvalho) e a releitura original para “Na Hora do Almoço”, de Belchior. “Eu sempre quis gravar o Belchior, mas eu não conseguia, não havia jeito. A influência dele é tão grande em minha vida, que eu não conseguia encontrar a minha própria voz”, afirma Bessa, ao revelar que sempre quis gravar algo do saudoso artista cearense.
A gravação das 9 faixas aconteceu no estúdio da produtora Play it Again Som & Imagem, entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, com produção executiva se Andre Minnassian e produção musical de Caio Zan, produtor e músico que participa de algumas das faixas. O lançamento oficial em todas as plataformas acontece no próximo dia 30 de Abril, com distribuição da Tratore. Abaixo, você tem acesso ao trabalho no Spotify, que está também neste link.
Veja o clipe da releitura de "Na Hora do Almoço", de Belchior, e uma explicação de Bessa sobre essa nova versão:
OUÇA MAIS:
Na terça, dia 27, fizemos um pré-lançamento do trabalho de Reynaldo Bessa. Você confere no episódio do podcast Peças Raras (a partir de 10min40seg), neste link ou no player abaixo:
O FUTURO QUE ME ALCANCE – FAIXA A FAIXA
Faixa 1 – A Voz do Mundo
A gravação que abre o trabalho
convida à emoção. Após uma singela cantoria originada de um sampler com a voz
da mãe do artista, dona Toinha, remetem às origens de Bessa. Em seguida, o mundo
materno aparece na interpretação única do cantor, que, à capela, entoa seu
lirismo em versos que dão a grandeza única dessa relação sem paralelo: “Teu
colo é maior que o universo, tua voz é fruta de vez”, canta o autor na música
de abertura, que conclui com a pergunta “cadê a voz do mundo?”.
Faixa 2 – Plural (em parceria com Paulo César de Carvalho)
A música tem uma levada mais pop e,
tal qual esse estilo de música, traduz a fusão de diversas influências e
referências, em trechos como “tenho um ar de muitos ares / sou mar de muitos
mares / sou muitos não repares”
Faixa 3 – Na Hora do Almoço (Belchior)
A releitura traz um arranjo original
e, como sugere o nome da banda que acompanha Bessa, um tanto psicodélico. O
resultado é muito adequado ao período em que a composição de Belchior foi
criada, meados dos anos 1970. Tal qual nos dias de hoje, a família reunida à
hora do almoço amarga o medo, um incômodo temperado à angústia e melancolia.
Faixa 4 – Nem Todos os Cisnes são Brancos
Outra música que retrata bem os dias
de hoje. Aqui, Bessa usa metáfora inspirada em argumento do filósofo Karl
Popper para demonstrar que verdades podem ser relativizadas e gerar falsas
percepções. O refrão repete o nome da canção para demonstrar a importância da
dúvida em contraponto a certezas absolutas.
Faixa 5 – O Futuro que me Alcance
Composição que dá título ao trabalho
e é representada graficamente na capa, em que a cor vermelha direciona para o
futuro e seu curso inevitável e a amarela, ao passado. Entre “aquilo e isso”,
há a lacuna do tempo no presente. A verve poética de Bessa alcança o ápice em
ideias que flutuam pela letra como “Vou na popa, vou de costas para a proa”. É
a tentativa de lutar contra o inevitável futuro em que estamos mergulhados.
Faixa 6 – Fantiana
Aquele tipo de música que nos faz
viajar com um simples fechar dos olhos. Tal qual um lugar mágico e cheio de
encantos e que, por isso, parece inatingível, Fantiana é outra música que
mistura psicodelia com uma pegada mais pop e nos transporta por versos pelos
quais nosso subconsciente vai percorrer mesmo após o último acorde: “eu daria
tudo pra te ter agora, colorindo o escuro, com a tinta das horas, eu daria
agora”. Fantiana é a dança que nunca foi dançada, o filme que ainda não foi
visto, o país nunca visitado, o poema não escrito, é a surpresa em forma de
versos que simplesmente nos levam...
Faixa 7 – Na unha de um Serafim
Em todo CD de Bessa há uma faixa
romântica, daquelas que nos remete a uma história única vivida ou abortada.
Aqui a segunda opção prevalece. A distância entre o amor idealizado e a
impossibilidade de vive-lo, mesmo sendo impossível viver sem ele (“eu não sei
viver sem você”, brada o poeta) é o que torna essa canção universal.
Faixa 8 – Quem é Ela?
As lágrimas que brotam de “Na unha
de um Serafim” se transformam em uma praia por onde a alegria volta a nos
convidar a um mergulho pelo lado mais solar da vida. É aquela faixa em que
Bessa remete às raízes mais profundas e nos transporta para ritmos tipicamente
nordestinos, “acendendo nosso riso com o brilho do seu cantar”, parafraseando
um dos versos da música.
Faixa 9 – Cão dos Diabos
“O amor é um cão, uma megera, uma
dor de soslaio na janela, um cisco no olho da razão (...) quando chega é um
Deus-nos-acuda, o diabo também oferta ajuda, estrelas tilintam de alegria. Mas
um dia se esvai é tiro certo e atinge até quem não tá perto, com a faca
cortante da agonia”. Essas são algumas das metáforas que trazem a contradição
do estado amoroso. A voz e o arranjo são cortantes como a letra.
Ficha técnica:
Artista: Reynaldo
Bessa
Banda convidada: Psicodélicos
da Tia Lalinha
Produção e realização: Play
It Again
Produtor Executivo: Andre
Minassian
Produtor Musical e Engenheiro de Som: Caio Torrezan
Apoio: Fino da Bossa, Peças Raras, Gondim&Garcia Produções
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