Rita Lee foi a 'disc-jóquei desvairada' no Radioamador da 89 FM
Em sintonia com diversas Ritas
Por Fausto Silva Neto e Marcelo Abud
Atualizado em 13 de maio de 2023
A arte, a cultura, e mais especificamente a música
brasileira, acordaram tristes na manhã de terça, dia 9 de maio de 2023. Pois na
noite anterior, um de seus maiores ícones encerrou sua maravilhosa turnê nos
palcos deste mundo. Aos 75 anos, a consagrada cantora, compositora, e
multi-instrumentista paulistana Rita Lee faleceu depois de uma longa luta pela
vida.
Ela continuará a ser uma das artistas mais influentes do
país, reconhecida por sua inteligência, pioneirismo, irreverência e ativismo em
defesa das mulheres, dos animais e da liberdade. E foi consagrada no universo
musical por todas as suas premiadas gravações, álbuns e shows. Mas Rita não foi
uma só, foi tantas. Também mostrou toda sua desenvoltura artística e talento
como escritora, publicando sete livros infantis e duas autobiografias, sendo
que a última, lançada recentemente.
Exercitou seu lado atriz participando de produções na
televisão e no cinema. Na novela "Vamp" (1991), interpreta uma
roqueira vampira, e no humorístico "Sai de Baixo" (1997), vive papel
de uma prima do personagem Caco Antibes, marcante na trajetória do ator Miguel
Falabella. Já nas telonas, uma de suas aparições foi como a personagem Julieta,
no filme “Durval Discos” (2002). Também figurou como dubladora na animação “Wood
& Stock: Sexo, Orégano e Rock'n'Roll” (2006), dando voz à personagem do
cartunista Angeli, Rê Bordosa. Apresentou ainda um programa televisivo
intitulado "TVleezão" (1991), na MTV Brasil.
Rita Lee como Lita Ree, nos estúdios da 89 FM, em meados dos anos 80 (reprodução Facebook)
Rita Livre: Lita Ree, a disc-jóquei
desvairada
Para quem não se lembra ou não teve a oportunidade de
ouvir, Rita se aventurou brilhantemente roteirizando e apresentando um programa
radiofônico semanal no dial paulistano, de nome "Radioamador"
(1986), todos os sábados, às 18h, com uma hora de duração, na 89FM.
Nele, a cantora assumia a identidade de "Lita Ree, a
disc-jóquei desvairada" que entrevistava e apresentava interpretando
diversos personagens (na verdade, brincava muito com a voz, cantando e falando
de maneiras caricatas e inusitadas).
E "disc-jóquei desvairada", por quê? Por ela
ter total liberdade de misturar cantores e bandas de gêneros musicais diversos
e de diferentes períodos, indo de Ângela Maria a Ratos do Porão ou de Sepultura
a Nelson Gonçalves, por exemplo.
Era um verdadeiro "caldeirão" de possibilidades.
Nas 35 edições que foram ao ar o público ouviu bandas e artistas de sucesso de
outras gerações que já não tocavam mais tanto no rádio, como as próprias bandas
que Rita Lee fez parte: Mutantes, Tutti-Frutti e outros artistas como Secos e
Molhados, Carmem Miranda, Elza Soares, Maria Bethânia, Supla com sua banda Tokyo
e muito mais. Isso tudo, além de tocar o que estava sendo lançado no cenário
paulista do rock nacional, ao abrir espaço para quem ainda não tinha nenhum
disco gravado, ou tocado no rádio.
Mas Rita Lee não estava sozinha. Em todas as edições do
programa, contava com a companhia do marido Roberto de Carvalho e do dramaturgo
Antônio Bivar.
É possível conferir registros históricos do programa
"Radioamador" na plataforma do YouTube, numa gravação levada ao ar na
extinta Rede Manchete, em que Rita conta que tocava esses artistas que não
tinham a ver com o estilo da rádio, em função da atitude que esses artistas
tiveram em suas jornadas.
Outro registro é possível ser ouvido no canal oficial da cantora Virginie,
da saudosa banda Metrô, também no YouTube, com as locuções e vinhetas, da edição
de número 2 da série "Radioamador". Vale a pena ouvir!...
Premiada em diversas artes
Ao longo de sua carreira, Rita Lee foi merecidamente
premiada, e aqui cito a conquista de três troféus do Prêmio APCA, concedido
pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, como; “Melhor Show” pela turnê
“Rita Lee em Bossa’n Roll”, na categoria Música Popular (1991); “Grande Prêmio
da Crítica” por sua carreira musical, na categoria Música Popular (2016); e “Melhor
Biografia/Autobiografia/Memória” por seu primeiro livro autobiográfico “Rita
Lee: Uma autobiografia”, na categoria Literatura (2016).
Sem dúvida uma grande artista! Enaltecida no registro do amigo Caetano Veloso em sua canção "Sampa", em que remete ser Rita Lee a mais completa tradução de São Paulo, essa maravilhosa paulistana que já deixa saudades. Boa jornada, Rita!
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