Peças Raras: Ainda Estou Aqui e Zé Bettio, no antigo Manhã Bandeirantes (transcrição)
Abaixo, a transcrição do episódio desta semana do podcast Peças Raras. Você pode ouvir na sua plataforma de podcast preferida e, também, no canal do youtube neste link ou no player abaixo:
(Vinheta) Peças Raras. Você em sintonia com o rádio.
Marcelo Abud:
Olá, tudo bem? Eu sou o Marcelo Abud, o seu podcaster
radiofônico. Estou de volta com nossas peças raras. E hoje eu vou falar sobre
um filme que fui assistir na última sexta-feira, dia 8 de novembro, na semana
de estreia, finalmente, do tão aguardado Ainda Estou Aqui. Bom, um filme que
muita gente já foi assistir, pela experiência que eu tive na sexta-feira, né, quando
fui à sala de cinema no Cinemark, e tinha uma procura bem legal. Então imagino
que a expectativa gerada em torno do filme Ainda Estou Aqui tem levado muita
gente ao cinema. Ele retrata um período muito duro da nossa história recente. E
eu vou deixar que o próprio autor do livro que deu origem agora ao filme
dirigido pelo Walter Salles, com a Fernanda Torres no papel principal, conte as
motivações para escrever o Ainda Estou Aqui. Para quem não sabe, é um livro do
Marcelo Rubens Paiva e foi lançado lá em agosto de 2015. E essa entrevista que
nós vamos ouvir foi dada ao Marcelo Duarte e à Thais Freitas no programa Manhã
Bandeirantes, que à época estava entrando em uma nova fase. Então, às 10 da manhã,
entre 10 e meio-dia, o rádio tradicionalmente tinha um momento mais leve em sua
programação, parecendo mais uma revista de variedades -com as informações
importantes, com as notícias do dia -, mas com outros conteúdos mais culturais,
mais curiosos, mais leves, como essa entrevista que nós vamos ouvir com o
Marcelo Rubens Paiva no período do lançamento do livro Ainda Estou Aqui. Vamos
voltar a agosto de 2015 e conferir a Entrevista de Marcelo Rubens Paiva ao xará
Marcelo Duarte no Manhã Bandeirantes daquele dia 17 de agosto de 2015.
Marcelo Duarte:
E agora vamos falar de literatura. E, olha, a Thais é
testemunha ocular que eu estou aqui com o livro Ainda Estou Aqui, do Marcelo
Rubens Paiva. E olha, está marcada a página em que eu estou, página 105, tá vendo
aqui, ó? Tá marcadinho.
Thaís Freitas:
Uhum. Já leu mais ou menos 1/3 dele, é isso?
Marcelo Duarte:
É, o livro tem... 293 páginas. E eu já vou começar a nossa
entrevista aqui dando uma bronca no nosso entrevistado. Bom dia, Marcelo Rubens
Paiva!
Thaís Freitas
Bom dia, Marcelo, Bom dia, Thaís. Qual é a bronca?
Marcelo Duarte
A bronca é a seguinte, Marcelo, todo sábado, depois que eu termino
o Você é Curioso? aqui, eu vou para casa, almoço, e aí eu tenho o hábito, mas
todo sábado, de sair para tomar um sorvete, para comer um doce, a sobremesa
fora de casa, né? E a família, às vezes diz ‘não, pô, vamos ficar em casa’. Eu falo ‘não, não, é sagrado. Todo sábado vamos
sair’. Aí eu caí na besteira, Marcelo, de começar ler o seu livro.
Marcelo Rubens Paiva
(rindo)
Marcelo Duarte
Sem brincadeira, Marcelo. Podia estar agradando aqui o
entrevistado. Eu não conseguia parar.
Thaís Freitas:
E para você não tomar um sorvete, né, Marcelo?
Marcelo Duarte
Pra eu não tomar um sorvete de sábado à tarde, olha, ou é
dia de tempestade...
Marcelo Rubens Paiva
Aonde é o seu sorvete?
Marcelo Duarte
Não entendi.
Marcelo Rubens Paiva
Aonde você toma sorvete?
Marcelo Duarte
Olha, é perto até da sua casa, ali na Dueto, sabe? Na Desembargador
do Vale. Eu gosto muito dali, mas às vezes vou pra outros lugares um pouco mais
distantes. Olha, eu sei que eu tô adorando o livro.
Marcelo Rubens Paiva
Sei, sei, sei. Eu estou te devendo um sorvete então.
Marcelo Duarte
Você está me devendo um sorvete.
Marcelo Duarte
Ah, eu sei que eu estou adorando o livro e queria começar a entrevista
perguntando para você, Marcelo, se o nascimento do seu filho, do Joaquim, é que
inspirou você a escrever um pouquinho dessas... O Joaquim nasceu em fevereiro
de 2014, o primeiro filho do Marcelo. Foi a chegada, a gravidez, a chegada do
Joaquim que despertou essa vontade de você escrever mais sobre a sua infância,
a história da sua família e, principalmente, a história da sua mãe?
Marcelo Rubens Paiva
Olha, na verdade, foi um complemento de várias coincidências.
O ano 2014 foi um ano muito forte para mim e para minha família, porque foi um
homem em que foram revelados muitas das farsas, né, em relação à morte do meu
pai, com a morte de duas figuras que estavam lá no Doi-Codi, né, que eram general
Molina e o..., que vieram a público. Quer
dizer, o Molina não, mas com esses documentos escondidos em casa vieram
a público e solucionaram alguns dos buracos que tinha nesse quebra-cabeça, que
é essa morte que já dura mais de 40 anos, não é?
Veio a Comissão da Verdade, veio o Ministério Público fazer
uma ação contra os torturadores do meu pai, meu filho nasceu e vieram as
manifestações em que a gente via e vemos, né, porque ontem também tinha, né, de
gente pedindo a volta dos militares, intervenção, golpe militar. E eu resolvi
escrever um livro falando da saga desta família que esteve em todos os períodos
da ditadura, não é? Meu pai foi cassado em 64, quando ele era um deputado de 30
e poucos anos. Ficou na embaixada da Iugoslávia lá em Brasília, quando Brasília
ainda era um deserto, praticamente. Ficou dentro da embaixada, não podia sair,
ele e vários outros políticos, jornalistas, intelectuais. Eu passei meu
aniversário de 5 anos dentro dessa embaixada, minha mãe estava na embaixada, meu
pai foi pro exílio em 64, voltou meio que clandestinamente no Brasil, viemos
para o Rio de Janeiro. Ficou trabalhando como engenheiro sem fazer política,
porque ele era cassado, teve direito político cassado. Ajudava as pessoas - os
filhos dos amigos que estavam envolvidos em conflitos contra a ditadura -, foi
preso em 71, com a minha mãe, com a minha irmã. Foi torturado e desaparecido. Minha
mãe foi solta. Minha mãe participou do movimento pela Anistia, participou das
Diretas Já, minha mãe participou da Constituinte comigo e com a minha irmã Veroca.
Eu, como representante de direitos de deficiência, né, como representantes dos
direitos desaparecidos políticos. Depois, participou do governo Fernando Henrique
na elaboração da Comissão dos Desaparecidos. E, acho que assim, se é para
contar um pouco a história da ditadura, porque não contar através de uma
família que não é um padrão de família de guerrilheiros e de defensores da luta
armada, como muitas pessoas acham. É uma família que foi vítima como muitas
famílias.
Marcelo Duarte
Até para o ouvinte entender exatamente o que é esse novo
livro do Marcelo Rubens Paiva, Ainda
Estou Aqui. Ele já começou a explicar, mas eu vou ler um texto de quarta capa,
que eu acho que dá muita dimensão do que é:
“Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com o
deputado Rubens Beyrodt Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado e
exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, viu-se obrigada a criá-los sozinha
quando, em janeiro de 1971, Rubens Paiva foi preso por agentes da ditadura, a
seguir torturado e morto. Em meio à dor e às incertezas, ela se reinventou.
Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas. Nunca
chorou na frente das câmeras. Foi a minha mãe que ditou o tom. Ela quem nos
ensinou, escreve Marcelo Rubens Paiva nesse relato emocionante sobre o passado,
as perdas e a volta por cima. Ao falar de Eunice, e de sua última luta, desta
vez contra o Alzheimer, ele fala também da memória, da infância e do filho e
mergulha num momento sombrio da história recente brasileira para contar e
tentar entender o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele
janeiro de 1971.”
Marcelo, o que chama muito a atenção, muita gente pensa
assim, ‘bom, vou escrever sobre minha mãe, vou colocar minha mãe no pedestal’,
né? Tudo de maravilhoso que ela faz.
Marcelo Rubens Paiva
Todo mundo ama a mãe, né?
Marcelo Duarte
É. E você é muito sincero quando fala assim que as tuas tias
cuidavam melhor de vocês, né? Enquanto suas tias estavam brincando lá, sua mãe
tava lendo, né? Fala do jeito dela de educar vocês. Comenta um pouquinho, dá
alguns exemplos que mostram bem...
Marcelo Rubens Paiva
Eu acho que ninguém nunca está satisfeito com a mãe que tem,
não é? Sempre você quer mãe do vizinho. A minha mãe, a minha mãe não era tão
afetiva, tão italianona, quanto as minhas tias, as minhas avós. Minha mãe era um
pouco prática. Ela é da geração que queria trabalhar e por ter ficado viúva
muito cedo, aos 40 anos de idade, com 5 filhos, acho que ela se vê obrigada a
ser muito mais pai do que mãe. Mas por outro lado, sim, é claro que eu também
sinto um orgulho imenso dela, porque você imagina ter uma mãe deprimida em
casa, viúva, só cozinhando tortas, não é, como algumas tias faziam. Então é
esse paradoxo de a gente sempre achar que a gente queria um outro tipo de mãe.
Aí, eu queria ser bem sincero, ela foi sensacional comigo em muitas coisas, né?
Ela bancava as minhas loucuras de adolescente, ela não me cobrava. Ela foi
companheira, inclusive na minha carreira literária. Mas assim, aquela mãe
carinhosa que pegou no colo... ela nunca foi. E eu acho que nunca cheguei a culpá-la
por isso, por entender como é difícil você viver numa ditadura, tendo que
liderar movimentos de combate à ditadura e ao mesmo tempo cuidar de filhos, né?
Thaís Freitas
Só ia relatar aqui ao Marcelo, a mensagem de uma ouvinte que
chegou pra gente, Marcelo, da Rita. Ela está dizendo que Feliz Ano Velho fez
parte da vida dela, marcou a geração dela. E acho que de muitos de nossos
ouvintes também, não é? E ela disse que está louca para ler agora esse seu
livro novo, que vai ao lançamento. Qual é o paralelo que você faz entre os 2,
né? Porque ambos são autobiográficos, mas cada um com um foco diferente, né,
Marcelo?
Marcelo Rubens Paiva
Exatamente, Thaís, matou a charada. Primeiro que o livro já
está nas livrarias e muita gente acha que por não ter tido noite de autógrafo,
ainda não está, mas já está com certeza. Desde a semana retrasada, se não me
engano.
O paralelo é: um complementa o outro, né? Eu senti muita
falta de... Eu queria reescrever Feliz Ano Velho, depois de revelações que
vieram à tona a partir dos anos 80. Eu escrevi Feliz Ano Velho ainda na
ditadura. Era 82. Nós não sabíamos muito do que tinha acontecido com o meu pai.
Eu acho que a grande diferença é que no Feliz Ano Velho eu estou dentro da
história, é a minha história e eu estou olhando com os olhos de uma pessoa de 21,
22, 23 anos, estudante de comunicações da USP, né? Tinha largado a Unicamp e
fui estudar na USP, um pouco vivendo essa adolescência tardia, de uma época em
que o Brasil estava se reconstruindo, saindo da ditadura. E o inédito aqui é um
personagem que é pai, cujo filho tem os olhos e o cabelo do pai do meu pai, né?
E que vê a família e vê se esse momento com uma maior maturidade, com maior
distanciamento, depois de passar por tantos caminhos literários e teatrais e
observar, por exemplo, que o papel da minha mãe nos movimentos contra a
ditadura, foi muito mais importante que o papel do meu pai até. Quem combateu a
ditadura mesmo foi minha mãe, não meu pai... perceber a importância da minha
mãe pra história do Brasil. Entendeu? Meu pai foi uma vítima, minha mãe lutou, né? E
eu acho que são dois livros que se complementam, inclusive cenas deum estão no
outro com muito mais detalhes ou vistas. de uma forma diferente, né? E eu achei
um desafio literário fantástico, você revisitar uma história que você já
escreveu a 33 anos atrás, né? Fica difícil, achei assim. O escritor tem que
fazer de tudo, tem que tentar de tudo, né? O artista tem que revisitar o seu
passado, a sua obra, reler a sua obra, não é? E foi um desafio que eu não sei
se outros escritores fizeram, é praticamente reescrever uma outra obra de uma
forma completamente diferente.
O Marcelo leu, então ele deve ter se ter percebido essa
diferença entre um e outro. E aí o casamento dos 2 livros é tão é tão intenso
que quando a editora lê os originais do meu livro novo, ela imediatamente
pensou em republicar o Feliz Ano Velho, com o mesmo tipo de capa, numa edição
semelhante, né? Aliás, os dois livros têm o mesmo número de páginas. É
impressionante isso.
Marcelo Duarte
E o gancho que o Marcelo faz também na página 86, entre uma
história e outra, é maravilhoso. Quando termina a parte um do livro, ele coloca:
‘No fim de 1979, sofri um acidente. Quando acordei na UTI, eu estava paralisado
do pescoço para baixo, ela ficou do meu lado, mas aí é outro livro. É genial, é
genial a passagem que ele faz para o Feliz Ano Velho. E você trata também aí
com muita atenção, e eu acho que isso é também um outro aspecto, porque o livro
é uma aula de história, mas fala também do Alzheimer, que que acabou pegando a
sua mãe. É o título... é que você fala, que às vezes se refere a ela no
passado, mesmo ela estando viva. O título Ainda Estou Aqui é sobre isso,
Marcelo?
Marcelo Rubens Paiva
Exatamente, é uma frase que ela começou a falar recentemente.
E é muito aflitivo, porque o paciente de Alzheimer, ele vai sendo, ele vai
perdendo a memória aos poucos, vai perdendo os movimentos, mas a pessoa está
ali, a pessoa, a gente não sabe exatamente o que que ela está pensando, se ela
tem dificuldade de entender algumas coisas ou outras não, mas ela está ali. E a
gente costuma falar ‘ah minha mamãe
quando ia ao banco, mamãe gostava de cinema, minha mãe lia muito’, não é? Mas
ela está do nosso lado, ela mora aqui ao meu lado. Todo final de semana a gente
almoça junto. Ela está na cadeirinha de rodas e, aliás, é engraçado que meu
filho, como ele brinca comigo, que estou numa cadeira de rodas, de uma forma
muito natural, né? Ele também acabou brincando com ela de uma forma natural, de
mexer na roda, empurrar, subir no colo, morder o braço da cadeira. E das poucas
pessoas que minha mãe reconhece hoje, o meu filho é uma delas, apesar de ter
nascido há apenas um ano e meio atrás. E então, quando ela falou essa frase pra
mim, ‘eu ainda estou aqui’, ela falava baixinho, eu fiquei impressionado,
porque eu tô vendo tudo, estou sentido tudo. Quando você chegar no final do
livro, você vai ver que eu me debruço mais sobre o Alzheimer, que é uma
epidemia da qual nós todos vamos ter que lidar, porque quando um parente fica
com Alzheimer ou com uma demência, Parkinson, a família se desestrutura no
começo e a família tem que se reencontrar. Tanto que eu começo o livro, não é,
Marcelo, com a frase que o juiz me disse quando eu fui interditar minha mãe,
né? ‘Você agora é responsável civil e criminalmente pela sua mãe’. Quer dizer,
eu passei a ser minha mãe, né? Eu tenho um papel de curadoria dela. Eu represento
ela no banco, na receita federal, criminalmente, e eu acho que isso é uma
tendência em que nós vamos ter que nos habituar, porque nossos pais estão
retardando a velhice, estão morrendo mais tarde, né? A medicina tá dando longetividade
a uma grande massa de pessoas de 80, 90 anos, mas por outro lado, o cérebro
não, né? O cérebro ele degenera. Independentemente do fato de haver novos
tratamentos para o corpo. Então a gente controla o colesterol, triglicérides,
leucemia, exames periódicos, o câncer, o controle para não fumar, não comendo
gordura e tal. Mas o cérebro não tem perdão. E daí é assim mesmo. Essa epidemia
é algo que com a qual a gente vai ter que lidar nos próximos tempos, assim
praticamente como uma mobilização social. Porque a minha mãe consegue mexer na
estrutura de 5 filhos, de 5 famílias, né? Quer dizer, a doença dela,exeu com
todo mundo, né?
arcelo Duarte
Olha, eu vou agradecer a Entrevista do dramaturgo e escritor
Marcelo Rubens Paiva.
Marcelo Rubens Paiva
Eu estou falando demais, né? Desculpe, gente.
Marcelo Duarte
Imagina! O papo está ótimo aqui. É, lançamento do livro Ainda
Estou Aqui, da editora Alfaguara. E eu vou tentar ler até sexta tudo, viu,
Marcelo, para não perder o sorvete do próximo sábado.
Thaís Freitas
E depois me empresta, Hein?
Marcelo Rubens Paiva
Aí você conta aí pros seus ouvintes, do final do livro.
Marcelo Duarte
É, o final... (brincando) tava bom até a página 105, depois,
cai sensivelmente no final.
Marcelo Rubens Paiva
Marcelo brigadão, obrigado BandNews, um abraço para o
Boechat, meu grande amigo. É, queria falar que o lançamento vai ser na Livraria
Cultura, lá no dia 29, mas já está nas livrarias, entendeu?
Marcelo Duarte
Valeu, Marcelo, um grande abraço para você.
Marcelo Rubens Paiva
Abraço a todos de bom, tchau.
(música de fundo)
Marcelo Abud
Você ouviu então essa conversa, esse bate-papo muito
gostoso, não é? com as limitações do rádio, que tem um tempo para começar e
acabar a entrevista. O podcast, às vezes, se estende demais, mas o rádio
também, às vezes limita muito, né? Enfim, a gente vai encontrando o meio termo
e hoje a gente tem na internet uma liberdade para produzir conteúdos de acordo
com o que eles rendem. Então, isso é muito interessante. Mas vamos lá, o que eu
quero também aproveitar a partir dessa entrevista, que acredito que tenha sido
muito elucidativa para quem vai ao cinema acompanhar o Ainda Estou Aqui, vale a
expectativa em relação ao livro que foi lançado lá em 2015, há quase 10 anos. E
que eu, por exemplo, ainda não li, mas vou atrás. Vou buscar essa leitura. E
para quem tem curiosidade de, antes mesmo de adquirir o livro, saber o quanto
vai encontrar além do que está nas telas, no Google Livros... se você fizer uma
busca, ‘Ainda Estou Aqui/livro’, você vai encontrar cerca de 50 páginas que dão
esse aperitivo do que é o livro para você, escrito pelo Marcelo Rubens Paiva.
E aproveitando que nós trouxemos esse momento do Manhã
Bandeirantes, um momento de uma entrevista ligada a artes, à literatura, eu vou
resgatar um pouco mais do que foi essa fase em que o Marcelo Duarte comandava,
produzia e a Taís Freitas coapresentava o Manhã Bandeirantes diariamente. O que
eu quero trazer como reflexão, já que esse é um canal em que a gente entra em
sintonia com o rádio e o podcast, é o quanto o rádio tem perdido esse momento
da programação no dia a dia, né? No final de semana a gente tem programas com
entrevistas ali que contam a vida dos artistas, a gente. A gente encontra o Revista
CBN, por exemplo, que é um horário que permite uma reflexão maior, tem
entrevistas também mais leves, mesmo falando de temas difíceis, como a própria
entrevista que a gente ouviu do Marcelo Rubens Paiva, né? Tá falando de um
momento difícil do país, tá falando da questão do Alzheimer, mas a maneira como
é apresentada nos leva a algo muito rico, que nos tira um pouco daquela
velocidade, daquela aceleração da
notícia só, de, enfim, basicamente tragédias e acontecimentos do dia, né? Nos
faz ter um pouco de respiro dentro dessa programação jornalística. Então eu
faço aqui um movimento por esse tipo de programa, que era tradicional às 10:00
da manhã em várias emissoras de rádio. Eu estou falando aí das emissoras
jornalísticas, né? Então a Eldorado, a Bandeirantes, a CBN, lá nos anos 90. Quem
mais? A jovem pan. Todas essas emissoras, quando passava ali das 10:00, tinham
um momento dedicado a uma programação um pouco mais abrangente, mais leve, mais
produzida.
E desse rádio lá de 10 anos, eu vou trazer outro momento bem
legal do Manhã Bandeirantes, que era o quadro ‘Por Onde Anda?’ E a gente vai
ouvir então uma matéria que à época revelava uma curiosidade aos ouvintes do Manhã
Bandeirantes, que era por onde andava o Zé Bettio. O Zé Bettio que acordou
tantas gerações no rádio. Por onde andava o Zé Bettio no momento em que foi
feita essa matéria no Manhã Bandeirantes em 3 de setembro de 2015. Acompanhe em
mais um momento muito gostoso do Manhã Bandeirantes, que estava em nova fase
desde abril daquele ano.
Nelson Gomes
Você ouve Manhã Bandeirantes!
Marcelo Duarte
11 horas 37 minutos, quinta-feira. O Manhã Bandeirantes
conta por onde andam algumas celebridades do mundo artístico. Hoje, o repórter
Yuri Cavalieri fala sobre um dos maiores nomes do rádio brasileiro.
(vinheta: Por Onde Anda?)
(Abertura do programa Zé Bettio)
(música) Quem é que não sofre por alguém?
Zé Bettio: É o Zé Bettio!
Yuri Cavalieri
Hoje no ‘Por onde anda?’, vamos falar deste querido
radialista, cantor, sanfoneiro e também compositor. José Bettio nasceu em 11 de
janeiro de 1926, em Promissão, no interior de São Paulo. Mas quem vai contar
pra gente um pouco mais sobre a história dele é o radialista e colaborador do ‘Você
é Curioso?’, Marcelo Abud.
Marcelo Abud
Nos anos 70, muita gente acordava com o animado Zé Bettio.
Além das longas conversas e muita música Sertaneja, eram marcantes os sons que
utilizava, como o de um balde d’água. Na mesa da rádio, Zé Bettio utilizava
vários apetrechos para gerar os sons, entre eles um sino grande de gado e um
despertador.
Zé Bettio
(aos sons de despertador, sino e outros barulhos) Vamos, turma,
vamos levantar. Dona de casa tem água, aí, tem? Água na turma. (barulho de água
sendo jogada) Joga, joga mais. Aêêê.
Marcelo Abud
Já os personagens do programa eram trazidos em dois
gravadores, que continham áudios da própria fazenda do apresentador. Os
ouvintes eram saudados pelas vaquinhas Mascarada, Chita e Fortuna. Também
estavam sempre presentes o bezerro Maru, o burrinho Teimoso, a galinha Sabina e
o galo Lero Lero. A principal marca que Zé Bettio imprimiu ao rádio é o diálogo.
O improviso e o tom intimista faziam parte das conversas mantidas pelo
comunicador com empregadas domésticas, motoristas de caminhão e de táxi, lavradores
e pedreiros. Zé Betrio falava como poucos ao homem do campo e aqueles que
chegaram à cidade grande, mas mantinham na alma a saudade da vida simples do
interior.
Yuri Cavalieri
E aí vem a pergunta: por onde anda Zé Bettio? Ou seria Zé Bêttio?
Zé Bettio:
O meu nome é Bêttio porquê são 2 ts, não é? Mas eu uso o Bettio,
porque a acentuação é Zé Bettio. Bettio falando artisticamente ele soa melhor,
né?
Yuri Cavalieri
Há alguns anos? Milton Neves entrevistou Zé Bettiuo no Domingo
Esportivo Bandeirantes e falou sobre a grande audiência que tinha no programa.
Zé Bettio
Eu tenho, inclusive, a reportagem que nas décadas de 70/80,
quando no Brasil tinha 100 milhões por aí da população do Brasil, que eu
acordava 25 milhões no Brasil.
Yuri Cavalieri
Zé Bettio mora em São Paulo, mas aproveita a aposentadoria
em fazendas no interior do Estado, principalmente em Garça e Rinópolis,
curtindo um merecido descanso junto dos personagens do programa, as vaquinhas
dos burrinhos, os galos e as galinhas.
Zé Bettio
A gente tem tudo o que de fato uma família não tem lá,
entendeu? Tem os bichinhos lá, a gente cuida muito, eu gosto muito de animal,
sabe? Eu, eu trato muito bem dos animais, tenho muita pena do bichinho e às
vezes eu pego um bichinho na rua, abandonado, eu recupero ele, entendeu? Não
importa quanto custa, é uma vida, né?
(Vinheta) Quem é? É o Zé Bettio!
Thaís Freitas
Boa. Gostei de saber por onde anda o Zé Bettio. A gente
ouvia falar tanto dele, né? Fez tanto sucesso. Parabéns aí ao trabalho do Yuri
Cavalieri com a gente no Manhã Bandeirantes.
Marcelo Abud
E para terminar esta edição valorizando esse Manhã
Bandeirantes que não existe mais, eu vou trazer a abertura do programa de
estreia e aí a gente fala, né, aqui é um espaço em que entramos em sintonia com
o rádio e o podcast, então isso foi ao ar pelo rádio e depois ficava disponível
no site da Rádio Bandeirantes. Hoje está nas plataformas os programas quando
são distribuídos das emissoras de rádio também. Mas lá em 2015, no site da
Rádio Bandeirantes, a gente podia ouvir de novo. E aqui eu trago a abertura que
explica o que era a intenção dessa nova fase do Manhã Bandeirantes que estreava
em 13 de abril de 2015 a nova fase,
porque o Manhã Bandeirantes era um programa já tradicionalíssimo da programação
da Rádio Bandeirantes.
(Vinheta: Rádio Bandeirantes)
Nelson Gomes
A partir de hoje, nesse horário, suas manhãs vão ficar ainda
mais dinâmicas. O novo Manhã Bandeirantes vai trazer pra você mil assuntos, mil
coisas, reportagens mil. Nosso lema é agilidade. Claro que você vai continuar
bem informado. Nosso radar está sempre atento a tudo o que está acontecendo
neste momento para levar a notícia pro ar em tempo real. Daqui até aí, na sua
casa, no seu carro, seu trabalho, na sua corrida matinal. No seu computador, no
smartphone. Marcelo Duarte e Thais Freitas já estão prontos e é com eles que
você vai daqui em diante até o meio-dia. Interação, participação, fique sabendo
que queremos ouvir você. (é você dentro) Você vai se informar e se divertir.
Vai relaxar e vai poder opinar. É para não cair na rotina, para alimentar a sua
curiosidade. (Tem quadros novos) E se um repórter tivesse que cumprir um
objetivo ao longo do programa, e se você pudesse decidir essa missão (Manhã
Bandeirantes). E se falássemos sobre os bons modos nas redes sociais? (Manhã Bandeirantes).
E se trouxéssemos exemplos de jovens que estão mudando o Brasil? (Manhã Bandeirantes).
E se falássemos de família e saúde? Filmes e passeios? E se ouvíssemos
histórias de livros?
Vai começar o Manhã Bandeirantes! Venha ouvir e aproveita
para espalhar e compartilhar com sua rede de amigos e familiares. Manhã Bandeirantes
é agora, com Thais Freitas e Marcelo Duarte.
Marcelo Duarte
É agora. 10 horas e 3 minutos. Bom dia, Thaís.
Thaís Freitas
Bom dia, Marcelo, que responsa, hein? A gente tem que fazer
tudo isso que essa vinheta falou e muito mais...
Marcelo Abud
Por hoje é isso. Vá ao cinema, não deixe de ver Ainda Estou Aqui.
E vale também a leitura. Um grande abraço e até a próxima, quando eu volto com
mais peças raras para você.
(sequência de músicas que “falam” do rádio)
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