Folha de SP: Rádio um, TV zero
Acredito ser desnecessário comparar a TV ao rádio para valorizar um ou outro, porém, julgo relevante e precisa a análise publicada na Coluna Vanessa Vê TV, da jornalista Vanessa Barbara, publicada na edição de ontem do jornal Folha de São Paulo. Para que a leitura do texto a seguir faça mais sentido, convido você a clicar no player antes. Você terá uma trilha sonora adequada para "sentir" o que está escrito.
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Quando foi que a TV se distanciou do rádio, em matéria
de noticiário? É isso o que penso após ouvir o "Jornal de Amanhã", da rádio
Bandeirantes (seg. a sex., 22h40) e traçar uma comparação com seu primo
televisivo, o "Jornal da Band" (seg. a sáb., 19h15).
Sou de uma geração que cresceu diante da TV e só ouvia rádio de manhã, no carro do pai, indo para a escola. É uma linhagem traumatizada pelos acordes de Billy Blanco, "Vambora, vambora / Olha a hora, vambora, vambora", do jornal matutino da Jovem Pan, e pela aterrorizante vinheta de "O Pulo do Gato", programa da Bandeirantes que começa às 5h30. Até hoje tenho pesadelos narrados por José Paulo de Andrade, que diz: "Olha a aula, olha a hora", enquanto eu babo no meu uniforme de lã do colégio.
Apesar do trauma radiofônico, me impressiona a qualidade das emissoras AM e seus boletins de notícias, entrevistas demoradas e locutores com voz de príncipe.
O "Jornal de Amanhã" tem uma hora e meia de duração e só trata de assuntos relevantes. A escalada de manchetes dura 15 minutos e apresenta as notícias do dia num tom impecavelmente neutro e informativo.
Só houve uma gracinha em toda a edição, algo referente a Chico Anysio arrancar lágrimas em vez de gargalhadas. Também o locutor alongou-se em suas impressões sobre o tema, que, de resto, foi abordado de forma sóbria num texto limpo e bem redigido.
Já o telejornal da Band abriu a manchete sobre a morte do humorista com a frase: "Rir é o melhor remédio". Rendeu-se a uma boa dose de "fala, povo", esse nefasto costume televisivo de colher depoimentos de populares, em geral espirituosos e inócuos, só para pontuar a matéria.
Numa reportagem sobre uma escola de música clássica para crianças carentes, a repórter perguntou: "Ficou feliz?" a um jovem tocando violino pela primeira vez. Está para nascer alguém que responda: "Não. Só vim por causa do lanche".
Se o início do jornal televisivo até que estava bom, do meio para o fim a coisa desandou. No rol das notícias do dia, um especial de cinco minutos sobre qualidade de vida e "como alcançar esse estado de espírito chamado felicidade". As declarações eram óbvias e espelhavam o que o repórter queria ouvir.
Deu pra ver o clichê vindo lá da avenida Zumkeller, com suas garras pintadas de esmalte, ávido para me soterrar de gracinhas e liquefazer meu cérebro.
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Rádio um, TV
zero
Vanessa Barbara
Folha - 30/04/2012
Vanessa Barbara
Folha - 30/04/2012
Cesar Sacheto, apresentador do Jornal de Amanhã, da Rádio Bandeirantes. |
Sou de uma geração que cresceu diante da TV e só ouvia rádio de manhã, no carro do pai, indo para a escola. É uma linhagem traumatizada pelos acordes de Billy Blanco, "Vambora, vambora / Olha a hora, vambora, vambora", do jornal matutino da Jovem Pan, e pela aterrorizante vinheta de "O Pulo do Gato", programa da Bandeirantes que começa às 5h30. Até hoje tenho pesadelos narrados por José Paulo de Andrade, que diz: "Olha a aula, olha a hora", enquanto eu babo no meu uniforme de lã do colégio.
Apesar do trauma radiofônico, me impressiona a qualidade das emissoras AM e seus boletins de notícias, entrevistas demoradas e locutores com voz de príncipe.
O "Jornal de Amanhã" tem uma hora e meia de duração e só trata de assuntos relevantes. A escalada de manchetes dura 15 minutos e apresenta as notícias do dia num tom impecavelmente neutro e informativo.
Só houve uma gracinha em toda a edição, algo referente a Chico Anysio arrancar lágrimas em vez de gargalhadas. Também o locutor alongou-se em suas impressões sobre o tema, que, de resto, foi abordado de forma sóbria num texto limpo e bem redigido.
Já o telejornal da Band abriu a manchete sobre a morte do humorista com a frase: "Rir é o melhor remédio". Rendeu-se a uma boa dose de "fala, povo", esse nefasto costume televisivo de colher depoimentos de populares, em geral espirituosos e inócuos, só para pontuar a matéria.
Numa reportagem sobre uma escola de música clássica para crianças carentes, a repórter perguntou: "Ficou feliz?" a um jovem tocando violino pela primeira vez. Está para nascer alguém que responda: "Não. Só vim por causa do lanche".
Se o início do jornal televisivo até que estava bom, do meio para o fim a coisa desandou. No rol das notícias do dia, um especial de cinco minutos sobre qualidade de vida e "como alcançar esse estado de espírito chamado felicidade". As declarações eram óbvias e espelhavam o que o repórter queria ouvir.
Deu pra ver o clichê vindo lá da avenida Zumkeller, com suas garras pintadas de esmalte, ávido para me soterrar de gracinhas e liquefazer meu cérebro.
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