Rádio Paradiso - os beijos censurados e os amores roubados por Walter Silva
Uma nova experiência aqui no blog. Por favor, comente se gostou ou não e o que julgaria que poderia melhorar futuras apresentações de conteúdos nesses moldes. Você vai assistir a um vídeo com o conteúdo que preparei para o 11º Encontro Internacional de Música e Mídia - Uma vereda tropical: Aproximações, percursos e disjunções na cultura brasileira... e suas latinidades conexas.
... atrás de “Risque”, e outros
cometimentos, vieram milhares de “samboleros”, que acabaram por fazer com que
uma juventude mais bem informada achasse nos caminhos do próprio samba a
solução momentânea para o problema: a bossa nova .
Walter
Silva
Giuseppe Tornatore emocionou o mundo ao
dirigir e escrever Nuovo Cinema Paradiso, lançado em 1988. O filme faz uma
declaração de amor ao cinema e tem cenas de flashback
em um tempo em que a TV ainda não era dominante, mas já era sentida pelo cinema
como uma concorrente. No Brasil, chamada simplesmente de Cinema Paradiso, a
película chega às telonas no início de 1990. Nessa comédia dramática, um
cineasta de sucesso vive em Roma, mas volta à cidade natal após a morte do
projecionista Alfredo, com quem aprendera a amar a sétima arte. No retorno a
Giancaldo e, consequentemente, à sua infância, acompanhamos o trajeto do menino
Totó até que se tornasse o cineasta Salvatore Di Vita. Quando criança, ele era
coroinha da igreja e, após a missa, refugiava-se no Cinema Paradiso para fazer
companhia a Alfredo e espiar as cenas de beijos que eram censuradas pelo padre.
Foram esses beijos que fizeram o menino amar os filmes. Na volta a Roma, recebe
o presente que o projecionista tinha deixado a ele, uma edição com todas as
imagens de beijo que haviam sido censuradas.
Walter Silva, assim como o padre do
filme, aproveitou a enorme repercussão que alcançou no rádio para “censurar”
aquilo que considerava “música de fossa” e apoiar uma nova bossa para a música
brasileira. Mesmo diante da ascensão da televisão no Brasil, ao optar pela
execução das músicas em LPs, o disc-jockey
teve o programa de variedades de maior audiência do rádio no Brasil. No final
dos anos 1950, de acordo com o IBOPE, a atração comandada por ele era ouvida
por um milhão e setecentos mil ouvintes por dia. Era o Pick-up do Picapau, que
sucedia o Toca do Disco, levado ao ar pelo comunicador um ano antes na Record, que estreava em 1958, na Rádio
Bandeirantes. A emissora vivia seu momento mais auspicioso. Às vésperas da Copa
do Mundo daquele ano, o diretor Comercial e Artístico Edson Leite criara a
Cadeia Verde Amarela, com cerca de 400 retransmissoras da programação.
Na Bandeirantes, Walter Silva encontra o
cenário ideal para suas propostas. A emissora, já em 1955, aposta no rádio
musical como alternativa à chegada da televisão. Em depoimento ao acervo
Multimeios, do Centro Cultural São Paulo, Silva declara em 1983: “Os programas
de disco tinham liberdade para se estender. Não era apenas ‘vamos ouvir’ e
‘acabamos de ouvir’. Havia críticas, comentários, ligações telefônicas,
reportagens. Era um rádio vivo, atraente, que prendia o ouvinte. Feito por
gente inteligente. Sem apelações. Na época, a relação com as gravadoras era
saudável, amistosa. Elas não se atreviam a impor algo. Os DJ’s tinham liberdade
para elogiar ou criticar os discos perante os divulgadores”.
Walter Silva usou a força de seus
programas e a habilidade como produtor musical para incentivar a Bossa Nova em
oposição às músicas de artistas que ainda figuravam com destaque nas paradas de
sucesso com seus boleros, rumbas e mambos, além do samba-canção, que se
apropriava também de temas que embalavam a “dor de cotovelo”.
Silva
considerava ultrapassadas e de mau gosto as interpretações de artistas como Nelson
Gonçalves e Adelino Moreira. Este texto objetiva fazer uma espécie de paralelo entre
os beijos censurados pelo padre em Cinema Paradiso e amores roubados por Walter
Silva.
Comentários