Transcrição: Ademir Assunção no podcast Pois É, Poesia
Ademir Assunção durante entrevista sobre Paulo Leminski, a Marcelo Abud, em março de 2013 (Veja os detalhes aqui) |
O podcast Pois É, Poesia teve uma edição piloto em 21 de março de 2024, Dia Mundial da Poesia.
Na ocasião, o poeta Reynaldo Bessa conversou sobre o fazer poético com nomes expressivos do gênero: Ademir Assunção, Edson Cruz, Larissa Germano, Merremii Karão Jaguaribaras e Ricardo Silvestrin. Além da participação do editor Eduardo Lacerda, da Patuá. O programa na íntegra pode ser assistido neste link ou no vídeo abaixo:
A seguir, fique com a transcrição do bate-papo com Ademir Assunção, que abriu a transmissão:
(Vinheta musicada) Pois é, Poesia
Reynaldo Bessa:
Bem, antes de começar o nosso bate-papo, quero falar sobre o
nosso tema central, a metapoesia.
“Entre as práticas literárias que ostensivamente evidenciam
a consciência crítica do autor, a metapoesia é sem dúvida uma das mais
importantes ou significativas”, quem diz isso é Manuel Bandeira.
Então, essa é a ideia aqui! Falar da poesia pela poesia, do
poema pelo poema, do código pelo código. Ou é quando, né, o autor fala sobre a
poesia ou seu processo de criação?
Bem, o meu primeiro convidado é Ademir Assunção.
Ademir queria ser astronauta. Acabou poeta. Seu livro mais
recente chama-se "Espelhos".
Paulista da cidade de Araraquara, Ademir Assunção é poeta,
escritor, jornalista e letrista de música brasileira.
É autor de livros de poesia, ficção e jornalismo e vencedor
do Prêmio Jabuti 2013 com “A voz do Ventríloquo”, o Melhor Livro de Poesia do
ano.
Poemas e contos de sua autoria foram traduzidos para o
inglês, espanhol, alemão e publicados em livros e revistas na Argentina,
México, Peru e Estados Unidos. Ademir, querido, vamos assistir a um vídeo e
logo conversamos, ok?
Abjamra:
A poesia é uma coisa raríssima, ninguém sabe fazer poesia.
Quando você vê um poeta real, você diz assim, não, poesia é isso, então aquilo
tudo não presta... João Cabral de Melo Neto faz um verso, põe na gaveta, espera
seis meses para retirar, para ver se serve no seu poema. Tudo bem. Baudelaire...
Poesia é rara. Não me diga que ela não é rara, porque o que acontece nas
leituras que eu faço, nas poesias que eu vejo por aí, são uma catástrofe.
Reynaldo Bessa:
No vídeo, o Antonio Abujamra, né, o saudoso Abujamra, que
tinha aquele programa, Provocações, que eu adorava, enfim, diz que a poesia é
rara. Diz que quando encontramos um poeta real, dizemos, poesia é isso.
Ademir, o que é um poema ruim ou que é um poeta real?
Escolha uma das perguntas ou se você conseguir aí responder de forma muito
objetiva, responda às duas.
Ademir Assunção:
Cara, um poeta real? Pra falar a verdade, eu nem sei o que é
real. O que é a realidade... Para os hindus antigos, para os mestres budistas, para
os grandes pensadores e os povos antigos em geral, não é, para os nossos povos
originários aqui, acho que 90%, ou talvez até mais do que hoje a civilização
ocidental - e acho que essa civilização mundial - chama de realidade... para
eles é mera ilusão. Porque o real hoje está muito focado na... parece que tem
um grande Deus, que é o dinheiro. E viver só significa fazer dinheiro. Isso é
uma ilusão absurda, não é? Então, o que eu tenho certeza que é real é a
linguagem, é a poesia, porque não existe povo, não existe humanidade sem uma
língua. Dá pra pensar humano sem uma língua, sem um idioma? Dá pra pensar o
humano sem as palavras? Impossível!
Se a gente pensar que homo sapiens - a partir do momento em
que a gente desceu das árvores, que a gente perdeu o rabo e perdeu várias
outras habilidades animais também. E conquistou outras. E a principal delas,
pensamento e a expressão do pensamento, da percepção pela linguagem verbal.
Homo Sapiens, s e os cientistas estão corretos, tem 300/350
mil anos. A língua mais antiga, também se os linguistas, filólogos, cientistas
estão corretos, tem 5 mil anos, é uma criança, é um bebê ainda, comparado ao
tempo do da humanidade, né? E não existe um povo sem uma língua. E onde tem
língua, tem poesia, seja poesia cantada, seja poesia oral, né? E a poesia
escrita, que é muito mais recente, é uma tecnologia muito recente comparada à
idade da humanidade. Então isso é real.
E aí, já leio meu poema, é isso, gente? Então vamos seguir o
script aqui. Aí pensando na poesia que se pensa, né, quando o poeta, o agente
da poesia naquele momento, naquele instante, pensa o próprio fazer da poesia,
né, da articulação, da língua, das várias palavras, das articulações que a
língua, qualquer língua, qualquer idioma propicia e transforma isso em
linguagem. Então eu resolvi ler esse poema que se chama Máquina Pensante, que é
de um dos livros recentes meu, o Risca Faca, e é justamente um poema que abre o
livro e que se chama Máquina Pensante.
“Um poema que se pensa a si mesmo, como eu penso nele neste
momento. Organismo vivo, pulsante, moto-contínuo em pleno funcionamento, quando
quem o pensou já não esteja mais aqui.
A linha pensa, a ponte pênsil, a escrita persa. Nada que a
prosa versa.
Palavra com nome de estrela, cometa que não se derreta no
atrito com a atmosfera. Pura música das esferas. Algo do tamanho de um grilo.
Sou mais forte que o grito, lógica, mágica e delírio. A noite avança, o
pensamento passa, traça, asa, grafia, nada sobrevive. Além do além da poesia.”
Reynaldo Bessa:
Maravilha, Ademir, eu já te agradeço a tua participação.
Você sabe que é meu irmão, não é? Nós já viajamos muito juntos aí para falar da
poesia, falar sobre poesia, enfim, shows. Eu queria só que, se você puder, estender
um pouco aquele assunto que a gente estava comentando aqui em off, vamos
desmatar. Como é que esse lance aí? Vamos desmatar?
Ademir Assunção:
A gente tá vivendo, aqui na... eu estou em São Paulo, né? O
Ricardo Silvestrin eu sei que está em Porto Alegre. As outras pessoas eu não
sei onde estão, né? Marcelo está aqui também. Você também? A gente tá vendo o
calor absurdo, né, que a gente tá vivendo. Isso também é uma coisa que a
poesia, não só a poesia, discursos científicos, os biólogos, enfim, tudo
através da linguagem, alerta. E está alertando há muito tempo, não é? Os povos originários alertam desde sempre. É,
a gente está tratando muito mal a nossa casa. A gente não, né? Aqueles
gananciosos. Parece aqueles garotinhos, aquelas crianças... Todo mundo conheceu
quando era criança... aquele que você chegava com um brinquedo, outro chegava
com brinquedo, outro com o brinquedo e tinha aquele queria pegar todos os
brinquedos e ficar só com ele e ele ficava solitário. Ninguém brincava com ele,
não é? Você ia fazer outras coisas. Esses gananciosos estão destruindo o
planeta. É evidente!
Então a gente estava falando aqui antes de iniciar, estava
brincando, não é? Eu recomendo às pessoas que continuem desmatando, estão
desmatando muito pouco. Tem que desmatar mais, acabar com tudo até a gente
virar um leitão a pururuca assado então em pleno ar livre.
Reynaldo Bessa:
Maravilha, cara maravilha.
Ademir Assunção:
E todos vão assar. Não vão ser só os pobres, não vão ser só
os poetas, não vão ser só os indígenas ou povos originários, os budistas... vão
ser todos, inclusive eles.
Reynaldo Bessa:
Maravilha! Obrigado, meu irmão. Tá bom! Valeu, meu irmão.
Obrigado, viu?
Ademir Assunção:
Valeu, abraço a todos que estão ouvindo?
Reynaldo Bessa:
Bom, deixa eu ver agora se a Deborah Izola já tem algum
comentário aí que ela quer compartilhar com a gente. Débora querida, como é que
estão as coisas aí? Algum comentário?
Deborah Izola:
Olha, a gente tem algumas participações especiais. É, o Allan
Fernando, a Maira Garcia, a gente tem também a Maria Alice Braga. A gente tem...
Espero que eu tenha acertado o nome da Maira. Tô olhando aqui... agradecer o
que estão falando.
“Que lindeza. Que momento especial” Então, Marcelo Vitorino
acabou de entrar, mandando beijos para vocês, aplaudindo. Por enquanto, são só
essas participações, Bessa.
Reynaldo Bessa:
Maravilha, maravilha. Allan Fernando está rodando aí o mundo
com a poesia também -soltou uns Stories hoje, no Dia Mundial da Poesia,
rolando no mundo todo. Maira Garcia também é poeta, enfim, conheço o livro dela,
Maravilha. Obrigado pela presença de vocês.
(Vinheta musicada) Pois é, Poesia.
Comentários