Transcrição: Sacolinha indica Goela Seca, de Jô Freitas, no podcast Pois É, Poesia



A 6ª e última transmissão ao vivo de 2024 do podcast Pois É, Poesia, que acontece pelo youtube.com/@PoisePoesia, tratou do Sarau, a Poesia do Coletivo. Com participações de agitadores culturais como Katia Suman (Sarau Elétrico), Binho (Sarau do Binho), Sergio Vaz (Cooperifa) e Vlado Lima (Sopa de Letrinhas), o programa, como de costume, também conta com a dica de leitura. 

Desta vez, o escritor Sacolinha é o convidado e traz o livro Goela Seca, de Jô Freitas, como sugestão. Acompanhe no vídeo e na transcrição abaixo.


(Vinheta musicada: Pois É, Poesia)

Reynaldo Bessa:

A pesquisa Retratos da Leitura 2024, realizada pela CBL - Câmara brasileira do livro -, aponta a necessidade de união em torno do tema da leitura. Pela primeira vez na série histórica, a proporção de não-leitores é maior do que a de leitores na população brasileira.

Gente, 53% das pessoas não leram nem parte de um livro impresso ou digital de qualquer gênero, incluindo didáticos, bíblia e religiosos, nos três meses anteriores à pesquisa. “Esse panorama convida à reflexão sobre os múltiplos papéis da leitura na educação formal, no desenvolvimento do pensamento crítico, na promoção da criatividade, no fortalecimento da identidade e do exercício da cidadania”, analisa o presidente da Fundação Itaú, uma das parceiras ali, Eduardo Saron. Para ele, é urgente reverter o declínio da prática da leitura em sala de aula, que caiu de 35% em 2007 para apenas 19% atualmente, o menor índice já registrado na histórica pesquisa.

A falta de tempo aparece em primeiro lugar, com 46%, usando como justificativa por não ter lido mais. Agora, gente, sabe o que me intriga? É que a falta de tempo para leitura, né? Há essa grande falta de tempo para a leitura. E agora eu faço, falo, faço como Antonio Abujamra: Há essa falta de tempo para leitura, né, mas, segundo a pesquisa do Estado de São Paulo do dia 3 de dezembro de 2024 (agora!), 9 horas e 13 minutos é o tempo médio que o brasileiro passa na internet. Ah vai, conta outra, essa não cola. Certo? Ou lê ou não lê, ou arranja um tempo ou não tem tempo, mas também não vamos deixar só com a... O pessoal todinho. A gente tem que repensar um monte de coisa como fala aqui o próprio Eduardo Saron. A gente precisa repensar e repensar tudo, porque a coisa está feia. Mas bom, deixa para lá, deixa para lá. Não vou falar não, porque se eu começar a falar, eu vou falar mesmo.

Então é o seguinte, o Pois é, Poesia faz a sua parte. Temos aqui sempre, sempre a nossa dica de leitura. E hoje, quem traz essa grande dica é o escritor Ademiro Alves de Sousa, mais conhecido como Sacolinha. Sacolinha nasceu na cidade de São Paulo e é formado em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes, a UMC. É escritor, autor de romances, livros de contos, crônicas, infantis. Ganhou vários prêmios por seus livros e seus projetos nos últimos anos. Tem viajado pelo país fazendo palestras e ministrando oficinas, principalmente em lugares vulneráveis e não muito comuns para evento literários, tal como cadeias, penitenciárias federais, favelas, morros e associações de moradores.

De 2010 a 2012, trabalhou com a escritora Maria Valéria Rezende, a grande Maria Valéria, prestando serviços para a Unesco e para o Ministério da Justiça no projeto Uma Janela para o Mundo - Leitura nas Prisões, falávamos sobre isso, nas penitenciárias de segurança máxima federais. Atualmente realiza o projeto Literatura e Paisagismo, revitalizando a quebrada, que tem por objetivo a intervenção em espaços públicos com literatura, grafite e o plantio de árvores, transformando esses lugares, antes abandonados, em espaços de convivência. Vamos lá? A nossa dica de leitura com Sacolinha.

 

Sacolinha:

Saudações literárias! Aqui, escritor Sacolinha, sou morador da cidade de Suzano, Grande São Paulo. Essa aqui é a minha querida Carol. Carolina Maria de Jesus, a quem eu devo muita coisa. Eu só passei a ser escritor depois que eu li, em 2003, o livro “Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada” e acreditei que era possível ser escritor, até porque, Carolina, ela era muito parecida com a minha avó. Então eu falei, bom, parece com a minha avó e eu sou também parecido com a minha avó, então é possível. Hoje eu tenho 13 livros publicados, sou formado em Letras, também sou professor, casado. Tenho duas filhas, uma de 8 e uma de 15 anos. Desenvolvo vários projetos de leitura para incentivar a molecada a ler, para incentivar a menina da periferia a ler, das escolas também, porque eu sou o que sou graças aos livros, né? Se não fossem os livros na minha vida, eu não estaria aqui. Então, a maioria dos meus projetos aí são voltados para o incentivo à leitura. Firmeza?

Para mim é uma honra estar aqui com vocês. Hoje eu vim trazer uma indicação de livro de uma autora de quem eu sou amigo, que é a Jô Freitas. A Jô Freitas, ela tem um trabalho muito bacana, né, nas escolas, tem um trabalho muito bacana nas associações, nas periferias por aí, que é de desenvolver saraus ceno-poéticos, onde utiliza-se bastante o corpo para incentivar a leitura, pra falar da palavra, pra promover a palavra também. Por muito tempo, a Jô Freitas fez parte do Sarau das Pretas, mas ela é criadora e organizadora do sarau Pretas Peri e também do sarau Lima e os novos Barretos.

Eu vou indicar aqui hoje um livro que inclusive foi finalista do Prêmio Jabuti nesse ano de 2024, que é o livro de poesia “Goela Seca”. Esse livro aqui da Jô Freitas é do ano passado, de 2023, certo? Chegou a ser semifinalista e finalista do Prêmio Jabuti. Também é um livro com projeto gráfico muito bonito. Eu particularmente amo a cor roxa, a cor vermelha e a cor preta também. Então, um livro, quando ele tem algumas dessas cores, já me encanta bastante. Eu gosto também do papel, não é? Faz tempo que eu evito ler livros que têm o papel branquinho, offset, não é? Eu gosto mais de um papel pólen, um papel Bold, não é? Então, isso aqui já me conquista bastante. O projeto gráfico está muito bonito. A gente tem algumas ilustrações também e ela brincou bastante com isso. O livro ele é costurado. Além dele ter uma lombada aqui, ele tem uma linha, né, passando entre as páginas também.

Então imagina como eu me sinto aqui com esse livro, certo? E aí eu trouxe esse livro por vários motivos que eu citei aqui, né? Por ela ser minha amiga, alguém que ainda precisa ser lido, porque a gente tem muitas pessoas que escreve bem pra caramba e não está sendo lido, não está sendo divulgado. Então, por esse motivo também eu estou trazendo aqui, eu vou ler uma poesia desse livro aqui. Eu não sou muito bom para interpretação, para ler poesia. Sou mais do conto, da leitura do conto e tal. Eu sou de família quilombola. Então eu gosto de contar histórias. Eu gosto de ler histórias, mas eu vou tentar dar o meu melhor aqui. Beleza? Seca é o título deste poema.

“Hoje sequei por dentro e por fora,

como um galho que, se pisar, explode

meus olhos secaram,

levando a enxurrada para outro lugar,

desviando dos caminhos que me podem alagar

Seca de dor, seca de amor.

Hoje acordei estática e muda,

esperando o vento bater

para que este corpo oco, apenas com um sopro, pudesse bailar.

Hoje sou madeira seca

cortada pelo lenhador

Sou árvore velha

que morreu para virar tambor

Sou a pele do tigre que embelezou

a sala do matador.

Sou o vazio de uma noite escura.

Hoje sou a seca de um sertão que pede cura”

 

Jô Freitas - Goela Seca. Siga a autora nas redes sociais, ela tá aí nas principais redes sociais como Jô Freitas também. Comenta lá, curte, compartilha os trabalhos dela, que isso também é uma forma de pagamento e de divulgação dos autores. Firmeza total? Quem falou foi escritor Sacolinha, muito obrigado pelo convite. Um grande abraço!

 

Reynaldo Bessa:

É, vi o Sacolinha aí, enfim, pegando com maior carinho o livro, beijando... eu faço muito isso. Isso aí é quem realmente ama, né? Ama os livros? Então é muito, muito bonito de ver isso.

 

(Vinheta musicada: Pois É, Poesia)


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