Transcrição: Como nasceu a Cultura FM, um clássico de São Paulo (Museu Virtual do Rádio e da TV)


Nesta quinta, dia 07 de agosto, entra no ar mais um audioguia do nosso Museu Virtual do Rádio e da TV. Desta vez, as peças raras em exposição remontam às origens da Cultura FM de São Paulo, que recentemente completou 48 anos de existência. Acompanhe o episódio no podcast Peças Raras (disponível em todas as plataformas) no player abaixo.

Vinheta: Peças Raras (com Brandenburg Concerto No. 1 in F major, BWV 1046

Allegro, de Johann Sebastian Bach ao fundo)

 

Marcelo Abud:

Olá, tudo bem? Eu sou o Marcelo Abud, seu podcaster radiofônico, e estou de volta com nossas Peças Raras. Hoje, mais um audioguia em exposição no nosso Museu Virtual do Rádio e da TV. Este já é o quinto episódio desta série em que estudantes de Comunicação do programa BCM da FAAP, que reúne aí Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo, entrevistam pessoas com mais de 60 anos de idade para saber dessas pessoas as impressões do rádio e da televisão na infância e na Juventude.

Essas entrevistas você pode conferir no museuvirtualdoradioedatv.blogspot.com ou então procurar por Museu Virtual do Rádio e da TV, versão podcast, no YouTube, YouTube Music ou no Spotify.

E neste quinto episódio, nós vamos revisitar “um clássico de São Paulo”, a Cultura FM. Para isso, eu vou contar com a conversa entre a avó Miriam e a aluna Isabella Altman. Você vai conhecer com elas o que motivou, então, a avó da Isabella a ouvir a Rádio Cultura FM aqui de São Paulo. E, na sequência, tem uma matéria, um áudio-documentário que eu fiz para a série Centenário do Rádio no Brasil, ZYR 100, para a Rádio Cultura Brasil. É uma série de 5 episódios que você também pode acompanhar em centenariodoradio.blogspot.com. Ali tem os 5 episódios. E aqui um trechinho desses episódios, né, em que justamente a gente vai saber como surgiu a Cultura FM de São Paulo como ela é hoje, destinada à veiculação de música clássica. Então fica aqui o meu convite para que você se acomode na poltrona, coloque o fone de ouvido da melhor maneira e viaje pela música clássica neste episódio do nosso Museu Virtual do Rádio e da TV.

 

Isabella Altman Garcia:

Oi, vó, tudo bem?

 

Miriam Altman:

Oi, Isa.

 

Isabella:

Qual que é seu nome? Quantos anos você tem?

 

Miriam:

Miriam Altman. Eu tenho 65 anos

 

Isabella:

Tá bom. Primeiramente, como era a relação com o rádio na sua infância e na sua Juventude?

 

Miriam:

Na minha época, a gente ouvia... eu, eu não ouvia muito rádio. Na verdade, não. Eu ouvia rádio sim, porque na minha casa, a minha mãe, ela... e eu tenho irmão que é flautista clássico, música clássica, e a minha mãe cantava também em coral, então estava sempre na Rádio Cultura, na minha casa, né?

 

Marcelo Abud:

Nossa conversa agora é com o doutor pela FFLCH da Universidade de São Paulo - USP, integrante do grupo de pesquisa Comunicação, Cultura e Memória do CNPQ, autor do livro “O Rádio com Sotaque Paulista - Pauliceia radiofônica”, professor Antônio Adami.

Até quando a Rádio Cultura mantém as atrações em seu auditório? E como a programação fica logo depois disso?

 

Adami:

Quando a rádio passa para as Emissoras Associadas em 59, se torna uma precursora das FMs, com segmento musical e líder neste setor. E assim como hoje nós passamos por um processo de “aemização” das FMS, eu acho que na época havia assim esse sentimento, tanto dentro da emissora como fora da emissora, de inovação total, quase de revolução. Eles trabalhavam já com segmentação antes das FMS existirem e depois, mais tarde, já nos anos 1970, é que foi precursora com a Cultura FM.

 

Marcelo Abud:

Até os anos 70, a FM era pouco conhecida; e ouvida em sistemas de som internos de uma empresa, por exemplo. Em 77, no entanto, a cultura FM é uma das pioneiras a aproveitar a presença do 3 em 1 e de receptores de Frequência Modulada nos automóveis para transmitir música com melhor qualidade de som. É assim que logo se torna um clássico de São Paulo a partir da idealização de Sérgio Viotti, o primeiro diretor da emissora.

 

Sérgio Viotti:

Nós, na verdade, precisávamos de duas mesas, uma para você por o FM no ar e uma mesa para você... para gravar a programação que eu queria a programação toda pré-gravada. Precisávamos de quatro toca-discos, que a gente tinha dois, precisava conseguir dois. E os funcionários para botar no ar, para gravar os programas, nós tínhamos três. E para pôr no ar eu acho que nós tínhamos quatro ou cinco. Não era muito. E eu sei que nós conseguimos esse milagre, fizemos o primeiro esboço de uma programação. A gente não sabia o resultado, não sabia o que ia acontecer. Podia ser que as pessoas detestassem, achassem uma coisa inútil. Surpreendentemente, a reação foi muito boa. E logo, logo os ouvintes começaram a telefonar, não só pedindo músicas, mas oferecendo as suas próprias discotecas particulares para que nós usássemos e gravássemos o que nós não tivéssemos. E foi um período de grande alegria e de grande Felicidade, porque eu tinha certeza que nós estávamos fazendo uma coisa boa, que existia no mundo inteiro e ainda não existia no Brasil.

 

Vinheta: Rádio Cultura FM.

 

Marcelo Abud:

Foi na mesa redonda da sala de jantar da casa de Sérgio Viotti que a cultura FM foi inventada juntamente com o ator e diretor Dorival Carper. Na Sala São Paulo, em 2017, nas celebrações de 40 anos da emissora, durante o programa apresentado por Fabio Malavoglia, o maestro Júlio Medaglia lembra como chega à cultura.

 

Júlio Medaglia:

Fiz uma visita a esta Rádio Cultura FM acompanhando uma conhecida que deveria entregar um projeto à direção da casa. O diretor de então, Jair Brito, perguntou se eu não teria um projeto também para um programa diário para a cultura FM. Bom, eu sempre fui um apaixonado pelo rádio. Minha mãe era uma costureira das grandes madames de São Paulo e ficava o dia inteiro com o rádio ligado. E eu fui captando aquele feitiço que o rádio brasileiro do passado teve, verdadeiramente psicodélico, onde aqueles sonoplastas usavam aquelas sonoridades maravilhosas baseadas na música clássica de vanguarda do século 20. E os locutores usavam a voz como se estivessem cantando uma ópera. Era uma ópera popular, falava e sonorizava, uma maravilha. Isso me deixou sempre muito fascinado e meu sonho sempre foi fazer rádio no Brasil. Tive a sorte de ser contratado aqui pela Rádio Cultura e fazer um programa como eu queria fazer. Na realidade, um programa de música clássica, com poucas e boas informações para que o ouvinte tivesse alguma curiosidade para captar uma obra sinfônica ou pianística, uma obra clássica, um pouco mais de curiosidade e atenção.

 

Miriam:

Então eu fui me habituando a escutar rádio e a gente acaba se acostumando, né, com o tipo de música e tal.

 

(sobe som: música "Concerto nº2 - Opus 57: II. Largo - Jean-Pierre Rampal)

 

Marcelo Abud:

Gostou de conhecer um pouco da origem da cultura FM?

Bom, se você quiser mergulhar mais em histórias como essa, eu deixo aqui o convite para que visite o site centenariodoradio.blogspot.com. E se você quiser ouvir outras conversas, inclusive o bate-papo inteiro da Isabella com a avó Miriam, você pode ir ao Museu Virtual do Rádio e da TV. Tem o podcast que está no Spotify, no YouTube ou no YouTube Music. E tem também o blog museuvirtualdoradioedatv.blogspot.com, onde inclusive você encontra histórias anteriores, já que este projeto nasceu em 2020. É uma grande viagem. Traz memórias muito bacanas, principalmente para quem viveu, mas também para quem tem saudade de algo que não conheceu e que vai ouvir lá fatos dessas pessoas com mais de 60 anos, mergulhar na evolução do rádio no Brasil e, também, da televisão, é claro. Por hoje é isso. Até a próxima, quando eu volto com mais um audioguia e as nossas tradicionais peças raras em exposição no Museu Virtual do Rádio e da TV. Até lá!

 

Salomão Ésper:

No processo de interação, o rádio entra com o áudio e o ouvinte, com a imagem.

 

José Paulo de Andrade:

É impressionante como a voz é reveladora.

 

Eli Corrêa:

Por isso que eu digo, rádio é o grande companheiro, é a melhor companhia que alguém pode ter.

 

Joseval Peixoto:

O que eu posso dizer é que eu sou muito, mas eu tenho muito orgulho de ser radialista.

 

Nicolau Tuma:

Radialista é simbiose de rádio com idealista.

 

Hélio Ribeiro.

Meu nome é rádio, eu não envelheço, me atualizo.

 

Marcelo Abud:

Peças Raras. Você tem sintonia com o rádio.


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