Podcast: Por que as antigas marchinhas eram machistas?

Grupo Vozeiral interpretando “Tomara que caia”, composição de Luisa Toller (reprodução YouTube)

Como as antigas marchinhas retratavam as mulheres? O Instituto Claro ouve duas especialistas no assunto, Rosa Maria Araújo e Luisa Toller, para entender por que grande parte das composições desse período eram machistas. Acompanhe aqui ou no player abaixo.  Autora do musical “Sassaricando – e o Rio inventou a marchinha”, que trata dessas tradicionais composições, a historiadora Rosa Maria Araújo ouviu mais de 2.000 músicas para a pesquisa da peça, juntamente com o jornalista Sérgio Cabral.
“As marchinhas de carnaval tiveram seu auge entre as décadas de 1930 e 1960. E elas retratavam, é claro, as mulheres, os homens, a vida doméstica, o casamento… De uma forma muito preconceituosa, em geral”, diz.

Criadas na então capital federal, essas canções coincidem com a efervescência do cinema, do rádio e do teatro de revista, que ajudaram a propagar as músicas.
Embora as mulheres tivessem obtido conquistas sociais, como o direito ao voto e à inserção em algumas atividades profissionais, o direito de fala e de circulação nos espaços públicos era dedicado preferencialmente aos homens.

Para a professora de música e compositora de marchinhas feministas, Luisa Toller, também ouvida neste podcast, não apenas as canções de carnaval, mas os demais gêneros também tratavam a mulher como objeto. “Não é muito diferente do que tem no resto da produção popular. Tem muito samba-canção, música caipira, tangos, boleros que têm um conteúdo machista”.


No áudio, Rosa e Luisa analisam algumas marchinhas e ressaltam que elas servem como crônicas para que se entenda a sociedade da época em que foram concebidas. “Tem muita coisa falando sobre política, sobre comportamento social e refletindo também pensamentos que são super preconceituosos”, explica Toller.
Para a compositora, “hoje em dia quando a gente fala que uma coisa é machista, a gente já tem que superar essa ideia de que isso é uma ofensa. É uma constatação! E eu acho que é muito bom que a gente consiga mudar e refletir sobre as coisas que a gente canta, fala e faz.”
Araújo afirma que em vez de serem “censuradas”, as letras machistas e homofóbicas servem como provas do preconceito, o que não acontece se as canções forem “apagadas”. “Acho que o importante é a gente saber que elas são fruto de uma época e que isso mudou, que nós passamos a ter consciência de todos os preconceitos e que o preconceito é nocivo, está errado.”
Sobre as composições atuais, Rosa Maria Araújo avalia que “a música produzida hoje é menos preconceituosa, na sua maioria. Claro que você tem algumas que ainda são muito grosseiras. Mas há outras que são plenamente feministas, que respeitam todas as preferências sexuais e que tratam disso com muita naturalidade”, conclui.

Para saber mais:
Conheça o podcast "Rio, vocação para a alegria", conduzido por Rosa Maria Araújo. Em um dos episódios, ela conversa com Ruy Castro sobre a sociedade dos anos 1920 na então capital federal: https://open.spotify.com/show/5wQNI4SPUJIF6uyb3jevxw

Abaixo, confira o vídeo de uma das  marchinhas compostas por Luisa Toller, que tem se espalhado nas redes sociais desde 2019:

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