Bernardo Carvalho: em entrevista, autor de Nove Noites revela seu processo criativo e fala sobre xenofobia no Brasil


Bernardo Carvalho (Foto: Adriana Vichi / Cia. das Letras)
Na sexta-feira, dia 3 de abril, conversei - por telefone - com o escritor Bernardo Carvalho. O assunto central foi o premiado livro "Nove Noites", lançado em 2002, que entrou para a lista da Fuvest 2021.

Esse bate-papo, gravado para o podcast Livro Aberto do Instituto Claro, pode ser conferido no player abaixo ou neste endereço:



Bônus 1 - Processo criativo
Para cada áudio de cerca de 8 minutos produzidos para os podcasts de educação e cidadania do Instituto, as conversas com os entrevistados chega a durar cerca de uma hora. 

Nesse trecho, o escritor fala da relação entre a escrita jornalística e a ficcional, em que ressalta que, para ele, uma não tem nada a ver com a outra, nem na forma nem no conteúdo; explica porque a obra dele traz personagens envoltos com o desaparecimento em circunstâncias misteriosas; faz uma ponte entre a antropologia e a literatura em que acredita, visto que acredita que em ambas há uma "procura de um outro no qual você acaba se vendo" e as certezas são colocadas em dúvida; aborda o uso de diversas fontes e estilos narrativos nos livros que escreve, ao justificar que isso acontece por gostar de percorrer um território aberto em uma literatura que "em vez de procurar se adequar às normas, procura um lugar desconhecido".

Bônus 2 - Ciência x xenofobia
Em outro momento da conversa, Carvalho fala da tristeza em ver como a ciência é desprezada no Brasil e sobre a desconfiança do estrangeiro, que é tratado muitas vezes como um inimigo. 


 Buel Quain é o protagonista do romance "Nove Noites": "o que esse antropólogo representa é essa desconfiança do outro como inimigo, quase fantasmagórica", afirma Bernardo Carvalho  



Para o escritor, para avançar no campo das ideias e da ciência tem que haver troca e não existe a possibilidade de você se fechar. "Não existe produção de ideia e reflexão se não for junto". No entanto, ao escrever "Nove Noites" se deu conta do quanto o Brasil é xenófobo e o estrangeiro é visto como um inimigo (exemplos atuais são a fúria contra os médicos cubanos e o preconceito em relação aos chineses). Bernardo Carvalho lamenta que a ciência não seja valorizada e que não se estimule esse contato com o outro, já que só vamos chegar a soluções se houver colaboração entre os países. 
" Se pensar a imagem do escritor argentino, mexicano, peruano é muito mais respeitada. O Brasil não permite que se tenha uma imagem de que daqui possa sair algo sério e respeitável. E talvez não tenha só a ver com preconceito externo, talvez tenha a ver com o tipo de sociedade que a gente criou, em que a educação local e produção de livros era proibida no Brasil colônia."




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