Entrevista com Sérgio Vaz, criador da Cooperifa

 

Foto: Marcelo Min

Acompanhe um episódio do podcast Peças Raras em que compartilho entrevista com o poeta Sérgio Vaz. A seguir, a transcrição da conversa. 


Vinheta: Peças Raras

 

Marcelo Abud:

Olá, tudo bem? Eu sou o Marcelo Abud e estou de volta com nossas Peças Raras. Em agosto de 2013 eu fui recebido na casa do poeta Sérgio Vaz para uma conversa sobre como a periferia pode rimar com poesia. Esta entrevista ficou guardada no meu acervo de peças raras. E agora eu decidi dividir com você por um motivo muito especial.

Como produtor e repórter do podcast Pois É, Poesia: Arte no Plural, eu fui novamente conversar com o Sérgio Vaz e desta vez para um episódio que acontece na quarta, dia 4 de dezembro, às 8 da noite, com transmissão ao vivo e participação de outros agitadores culturais dessa área de saraus. É o episódio “Sarau: a Poesia do Coletivo”.

Bom, essa entrevista com o Sérgio Vaz agora pro “Sarau: a Poesia do Coletivo”, episódio do podcast Pois é, Poesia: Arte no Plural, foi gravada também em vídeo, pela produtora Erica Nascimento, e você já pode conferir alguns trechinhos; uma pílula desse papo no Instagram @poiseposeia_oficial, @poisepoesia_oficial: Instagram do podcast Pois É, Poesia, apresentado pelo poeta Reynaldo Bessa, produzido pela Deborah Izola, ainda com o apoio da Zanzar Produtora.


Enquanto você espera pelo episódio desta quarta, dia 4 de dezembro, às 8 da noite, que pode ser conferido no youtube.com/@PoisePoesia, aqui você fica com a conversa... com uma tarde agradabilíssima que eu passei na casa do Sérgio Vaz e que compartilho agora com você, que é ouvinte há tanto tempo dessas nossas Peças Raras.

 

Sérgio Vaz:

A gente sempre morou na periferia, né? Meu pai é um cara que trabalhava como operário da Bombril e ele tinha o hábito da leitura. Apesar de tudo, tinha o hábito da leitura. E na minha casa nunca faltou livros nem alimento, né? Então foi uma vida simples, mas nunca faltou isso. E um dia, eu lendo um livro, tentei ler um livro era “Os Deuses Astronautas”, não entendi nada. E meu pai teve a sensibilidade de comprar os livros infantis. Então praticamente fui introduzido à literatura pelo meu pai, né, que tive acesso aos livros infantis, passei pelos infantojuvenis até chegar aos clássicos, essas coisas todas, né? Então fui muito influenciado pelo meu pai pela leitura, né? E assim, sempre gostei de ler - eram duas paixões que eu tinha, futebol e literatura, assim. Até me sentia meio estranho de morar na periferia nos anos 70, adolescente, gostar de literatura enquanto meus amigos não gostavam, né? Eu era aquele meio garoto gangorra. Quando eu sentava, todo mundo levantava, falava ‘puta, lá vem aquele cara chato falar de Capitães de Areia’ e tal. E eu não conseguia entender como as pessoas não gostavam, né? E eu sempre fui muito tímido, muito fechado assim, no começo. E os livros me ajudaram muito, né, cara? Mas basicamente, eu não gostava de ser poeta assim, eu não me sentia poeta. Eu tinha uma ideia que o poeta era aquele cara meio maluco, né, que acorda de manhã fala ‘bom dia, cadeira’, ‘bom dia, mesa’, né, ‘bom dia, geladeira’, que era o estereótipo que a gente tinha, né? Morando na periferia, no auge da ditadura militar. O estereótipo era desse cara. Ninguém ligava muito porque ele era bobão. Estava sempre falando de estrelas, de namorada que foi, que voltou e tal. Até eu conhecer Ferreira Gullar, Pablo Neruda, que eu vi que a poesia era uma coisa diferente do que eu imaginava. Ah, isso já estava com uns 17, 18 anos.

E aí eu comecei a ouvir Música Popular Brasileira, que eu venho dos bailes blacks, né? Ouvia muito Marvin Gaye, Jimmy “Bo Horne”, Tim Maia, e aí quando eu conheci a música popular Brasília, me apaixonei pelas metáforas, que aí eu comecei a entender o que era a poesia, que a poesia poderia ser uma coisa pra ajudar a não enlouquecer, pra ajudar a construir um país, reconstruir um país, que era uma arma de ataque e defesa. E que que a poesia não era aquilo que eu imaginava. Então aí me apaixonei pela poesia, aí, da literatura propriamente dito, comecei a me apaixonar pelos poetas, né? Pablo Neruda, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Eduardo Alves da Costa, Verlaine, Rimbaud, né? Federico García lorca, sempre fui apaixonado por Violeta Parra, enfim, e aí fui me introduzindo na poesia, assim.

 

(Música: O Caminho do Bem, com Tim Maia)

O caminho é para todos.

O caminho de bem é racional.

O caminho do bem.

 

Sérgio Vaz:

Aí chegar a ser poeta foi uma decisão muito difícil, porque você não escolhe ser poeta, acho que a poesia que te escolhe, porque ser poeta pra mim não é um privilégio, é um castigo, né? Porque as palavras não cabem todas dentro da gente, a gente tem que... E minha paixão, como eu disse, era o futebol. Para mim, eu queria ser jogador de futebol. Mas eu não tinha propriedade. Aí quando eu participei de um grupo de música, eu não sabia nem tocar nem cantar. Foi quando a minha turma falou, pô, por que que você não faz as letras de música? Tinha 17 para 18 anos. Essa fase assim que comecei a aflorar nessa coisa de ser poeta, eu fazia uns versinhos, mas despretensioso assim, sem muito... era uma coisa até que tinha vergonha de fazer, sabe? E aí eu comecei a fazer as letras. Aí fazendo as letras, eu percebi que eu tinha facilidade para fazer as coisas com mais síntese. Aí eu comecei a fazer poesia mesmo, poesia, poesia mesmo. Então foi nessa época, 18/19 anos, mas foi através da música, né, da literatura, assim que eu comecei. Nem me sentia poeta, eu escrevia, mas eu venho de uma realidade na periferia de São Paulo dos anos 70, que ninguém nascia para ser poeta, né? Para ser escritor, para ser cantor, a gente nascia para trabalhar 2 horas por dia, né, ser operário, que não é indigno para ninguém, mas a gente não tinha sonhos, né? Era muito assim, falando de solidão, assim muito... eu sempre me considerei um cara muito triste, cara, sempre. Sabe, uma tristeza me acompanha até nos dias de Alegria, né? Então era coisa muito reflexiva assim, até eu não gostava muito do que eu escrevia, porque nem eu às vezes entendia (ri) o que eu escrevia. E também gostava de falar coisas sobre da ditadura assim, sabe? Nessa época, trabalhava muito no bar do meu pai. Eu falava muito sobre liberdade, acho que estava precisando de liberdade, falava muito sobre isso e eu começava a falar dessas coisas, contra o racismo, minha poesia era uma poesia de protesto, praticamente.

 

(música em estilo hip hop fica de fundo, enquanto Sérgio Vaz declama poesia)

A história não perdoa os covardes e, com o tempo, os mentirosos são devorados pela verdade. Ser livre é um preço caro a ser pago. E negrar a vida é ser prisioneiro do acaso. Não tenho futuro, o passado não me pertence. E o presente? Bom, o Presente ainda não abri. Sangue, suor e lágrimas e, no final, um sorriso largo para disfarçar as cicatrizes de um coração que mais parece um museu de lembranças distorcidas. Queria que você soubesse e fizesse suas escolhas, pois se vai caminhar comigo, é isso tudo que eu tenho a oferecer. Veja a luz.

 

Sérgio Vaz:

Quando você escreve um livro, mora na periferia, primeiro você acha que o mundo inteiro está esperando seu livro chegar pra acontecer. E aí você faz o livro, o livro não acontece nada nem com você, nem com a comunidade, né? E aí você vê que a realidade é outra, que não basta ser poeta, não basta escrever um livro, que é preciso -além de escrever-, é preciso divulgar, é preciso vender, é preciso correr atrás. E eu fui aprendendo ao longo disso, que não bastava ser só poeta, não bastava dizer que tinha inspiração, né? E aí foi muito difícil. Eu nunca desisti, porque é uma coisa que está dentro da gente, né? Se pudesse, eu desistiria, né, porque o país é um país que não gosta de ler, tanto faz na periferia como na classe média, como no rico, as pessoas não gostam de ler. E ainda mais na periferia daquele tempo. Nós estamos falando dos anos 80, não é, do comecinho dos anos 80, onde a gente vive uma realidade de violência muito grande. A minha região foi considerada a região mais violenta do mundo, né? Que é a região do Jardim Ângela, Jardim São Luís. E você, fazer poesia num momento desse é desnecessário, né? Mas foi nessa época que eu comecei a divulgar meu livro em barzinho, porta de teatro, aí fui aquele cara chato, que interrompia as pessoas para poder vender livro, que foi muito legal. Aí o meu livro... o primeiro livro não repercutiu muita coisa, o segundo também não. E assim foi indo. Foram independentes meus primeiros livros. Hoje já não, já tem editora, mas meus primeiros livros foram independentes. Aí lancei o “Literatura, pão e poesia” pela Global Editora...

 

(Declamando) Fique esperto. Amar o próspero não é abandonar a si mesmo. E para alcançar utopias é preciso enfrentar a realidade. Quer saber quem são os outros? Pergunte quem é você. E se não ama a tua causa, não alimente o ódio. Os erros são teus. Assuma-os. Os acertos também. Divida-os. Ser forte não é apanhar todo dia nem bater de vez em quando. É perdoar e pedir perdão. Sempre. Tenho más notícias. Quando o bicho pegar, você vai estar sozinho. Não cultive multidão. Qual é a tua verdade? Qual é a tua mentira? O travesseiro vai te dizer. Prepare-se.

 

Bom, Colecionador de pedras é uma coleção de literatura periférica feita em 2007 pela e Global Editora, que convidou alguns escritores que já tinham um trabalho na periferia, já tinha um certo conhecimento. E eu tinha acabado de lançar, independente, meu livro Colecionador de Pedras, que era um pouco baseado no Drummond, né? No meio do caminho tinha uma Pedra e eu fui recolhendo todas, né, que era um presente para Drummond, devolver as pedras de Drummond, né? E aí tem um poema que eu gosto muito, que é “Os Miseráveis”, que é a história do bandido rico e do bandido pobre e que é uma homenagem a um grande livro que eu li na minha vida, que é Os Miseráveis, de Victor Hugo, que foi um livro que me mostrou outra miséria. Eu achei que o miserável era só aquele que morava no barraco de madeira. E eu descobri que também poderia morar numa mansão, né? A miséria é uma coisa democrática...

 

(música em estilo hip hop fica de fundo)

Vitor nasceu no jardim das margaridas

Erva-daninha nunca teve primavera

Cresceu sem pai sem mãe sem norte sem seta

Pés no chão, nunca teve bicicleta.

Já Hugo não nasceu, estreou

Pele branquinha, nunca teve inverno

tinha pai, mãe, caderno e fada-madrinha.

Vitor virou ladrão

Hugo salafrário

Um roubava por pão

O outro para reforçar o salário.

Um usava capuz

O outro gravata

Um roubava na luz

O outro em noite de serenata.

Um vivia de cativeiro

O outro de negócio

Um não tinha amigo, parceiro

O outro, sócio.

Retrato falado Vitor tinha cara na notícia

Enquanto Hugo fazia pose pra revista.

O da pólvora apodrece impenitente

O da caneta enriquece impunemente

A um só resta virar crente

O outro é candidato a presidente.

 

Bom, a Cooperifa é um movimento cultural que transformou um bar na periferia de São Paulo em centro cultural, o que fez com que a comunidade se voltasse para a leitura, para a criação poética. E era uma das coisas que eu sempre imaginei fazer, por morar na periferia daquele tempo e não ter tanto tantas pessoas como eu gostaria que gostasse de literatura como eu. Acho que eu não sou o único, mas entre os meus amigos não eram todos. Sempre pensei num jeito de um dia de alguma forma ajudar minha comunidade, de literatura, só que eu nunca soube o que era e não tinha ideia. Aí o Marco Pezão, que é o cara que criou o sarau da Cooperifa comigo, começamos a reunir num bar para falar poesia. Depois foi chegando gente, foi chegando, aí se transformou no sarau que é o monstro que é hoje e é uma das coisas muito bacanas, porque é quando a poesia desce do pedestal e beija os pés da comunidade. A literatura se despe da arrogância e chega ao leitor, às pessoas, que é o que ela deve fazer e que acordou toda uma comunidade e outras comunidades. Então nem eu sei explicar a proporção que isso virou. Talvez alguém de fora ou agora ou depois de um tempo vai saber explicar o que aconteceu.

 

Marcelo Abud:

Tinha aquela história, o jovem da periferia ou ia para a igreja ou ia para o bar. Aí por que essa opção pelo bar...

 

Sérgio Vaz:

Bom, na verdade, começou num bar, porque a gente gosta de cerveja, né? E aquele bar que acontece hoje era do meu pai. Eu trabalhei 12 anos ali, a minha adolescência foi toda ali. Eu costumo dizer que aqui onde me escravizava, hoje me liberta. Mas é porque o bar sempre foi o lugar mesmo das pessoas se encontrarem, a gente só renomeou ele, né? Lógico, deu um novo significado, mas ali, no bar da periferia é onde as pessoas se encontram para falar depois do jogo de Várzea, onde as pessoas se encontram para falar da Associação Amigos de Bairro, as pessoas se encontram depois do trabalho. Faltava poesia, né? E na preferia o que mais tem é bar e igreja. E eu sou da turma do bar, né?

Na quarta-feira retrasada, veio umas 500 pessoas, que foi a chuva de livros, não é? Teve 500 pessoas. Nós distribuímos 800 livros na comunidade, né? Então tem noites assim que aqui fecha a rua. Tudo isso para ouvir poesia. Alguma coisa está acontecendo.

(Sérgio Vaz durante Sarau da Cooperifa) Na semana passada, me ligaram da Companhia das Letras e falaram, ‘olha, temos alguns livros pra doar e tal, pra Cooperifa. Queremos saber se vocês aceitam’, lógico.

Eu sei que muitas pessoas vieram por causa do livro, mas esses livros também vieram por causa dessas pessoas.

A chuva de livros é quando a gente vai nas editoras pedir livros para distribuir de graça na comunidade, que faz parte da nossa campanha de incentivo à leitura. Então a gente dá um livro para o jovem não falar que não compra porque é caro. A gente está traficando informação, assim como traficantes, as primeiras doses são grátis. Depois, se ele quiser, ele que vai na biblioteca sustentar o vício.

 

Marcelo Abud:

O que você percebe da mudança na comunidade a partir da poesia?

 

Sérgio Vaz:

Vários jovens que continuaram estudando, que voltaram a estudar, vários adultos que sentiram vontade de estudar, a gente percebeu que as escolas começaram a comparecer, que os alunos começaram a se interessar por literatura. A gente percebeu que algumas pessoas que não tinham cidadania, agora têm cidadania. Porque eu acho que a literatura tem esse poder de dar cidadania às pessoas e é o cidadão que muda o bairro, que muda o Estado, que muda o País, né? E agregado à educação, a cultura é uma coisa extremamente poderosa. A gente tem percebido, a grosso modo, os jovens que escreveram seus livros, jovens que escreveram teses sobre a Cooperifa, mestrado sobre a Coperifa, então, pessoas ali que descobriram no chão do bar que adoravam literatura, hoje tem a biblioteca dentro do bar. Hoje você percebe que às vezes o moleque te para na rua para falar do livro que leu, que gostou ou que não gostou. É uma mudança muito grande.

 

(Renato Gama e Sergio Vaz declamando) Magia negra é magia que não acaba mais.

Magia negra era o Pelé jogando futebol.

 

Sérgio VAz:

Mas o futebol para mim, cara, ele é uma coisa muito poética na minha vida. Eu vejo o futebol como poesia, como uma coisa mágica, porque a gente saía de manhã para jogar futebol e voltava à noite, cara. Não sei se você é dessa época, mas a gente jogava o dia inteiro porque não tinha videogame, não tinha Facebook, não tinha Twitter. Colocava duas pedrinhas em um canto, duas no outro e passava o dia jogando, cara. E era uma magia. A gente queria ser jogando futebol. E não era por causa do dinheiro e não era por conta da fama. Porque eu venho dos anos 70, né, que depois dos anos 80 que começou essa coisa do dinheiro e tal. Mas era por paixão mesmo. E eu sou muito apaixonado. Sou um palmeirense doente. Gosto muito do Palmeiras, gosto muito de ir ao estádio e eu vejo futebol como uma coisa do povo assim, uma coisa da periferia assim, futebol de Várzea, a gente tem um projeto chamado Futebol de Várzea, que a gente dá um jogo de camisa para o time de futebol, mas ele tem que levar a família durante um mês ao sarau. A gente está pagando para os caras ouvir poesia. Aí temos 7 times já, patrocinamos 7 times de futebol. É isso aí. Uma forma de e devolver algo, de alguma forma, os sonhos, né, que eu sempre tive de estar perto do futebol. E um cara que tem um time de várzea hoje, ele tem que ter dinheiro, porque consome muito tempo.

Acho que poesia tem tudo a ver. Acho que quando o Sócrates dava um calcanhar, quando Garrincha vira para um lado e vai para o outro, quando o Zico mete uma bola de falta, no vazio, acho que é. Eu acho que é, isso é poesia, né? Aliás, muito maltratado ultimamente por esses perna de pau que não sabe escrever nada. Então é isso, acho que essa paixão é inata, né, cara? Mas eu sou apaixonado, não sou um torcedor, eu sou apaixonado. Sou um cara de assistir XV de Jaú e Juventus, Corinthians que eu não sou fã, e Luverdense. Eu gosto de futebol, é diferente explicar isso, né?

 

Marcelo Abud:

Muito bem, uma definição de poesia para você...

 

Sérgio Vaz:

Acho que uma das coisas mais louca que eu acho que a literatura tem um poder maravilhoso de mudar as pessoas para o bem e para o mal, até porque as pessoas se governam nesse país lêem, né? Mas eu acho acima de tudo o prazer, cara, assim que é de ler assim. Eu vejo na periferia uma coisa que me deixa muito triste, às vezes o cara vai todo dia pro trabalho, no mesmo horário, no mesmo ônibus, sentado ali e olhando aquela paisagem que ele vê por anos e poderia estar lendo um livro assim, né? Nesse interim assim, nesse tempo. E eu lembro que a época que eu lia mais é quando eu trabalhava de ônibus. Eu pegava no final e ía até o final no centro, e era um cara que quando via já tinha chegado e mergulhava tanto no livro, cara, que era assim, era impressionante como não tinha tempo, né? O tempo, espaço era uma, era uma outra coisa. E eu não sei como a gente não consegue hoje fazer com que as pessoas leiam, não para ser alguém, mas pelo prazer assim, sabe? Prazer de ler, o prazer de ler um bom livro ou um mau livro, mas de ler assim. Eu gostaria de um de um dia poder fazer mais coisas para que as pessoas leiam. Eu gostaria de fazer um projeto de lei que é assim, ‘sentar no ônibus, pessoas especiais, idosos e quem tivesse lendo um livro, o resto não precisa sentar.

 

(Sérgio Vaz declama Porém, de autoria dele)

Queria ter vivido melhor. Porém, a mediocridade sempre foi farta e generosa nos caminhos que escolhi para viver. Queria ter sido mais alegre, porém a tristeza sempre foi companheira fiel nos dias intermináveis de abandono. Queria ter amado mais as pessoas que conheci ou que fingir conhecer, porém, na maioria das vezes, também não me conhecia. Queria ter andado mais livre, porém algemado à ignorância, perdi muito tempo tentando voar sem sequer saber andar. Queria ter lido mais livros, porém analfabeto de ousadia, passei muitos anos enxergando pelos olhos adormecidos de outras pessoas.

 

Marcelo Abud:

Muito legal ouvir o Sérgio Vaz, né? Bom, então quer ouvir mais um pouco? Conhecer o pensamento do Sérgio Vaz, entender tudo o que se passa na mente do poeta, o canal é youtube.com/@PoisePoesia. Eu te espero por lá, como produtor, como repórter, tenho feito muitas entrevistas. E você é meu convidado, minha convidada pra conhecer também o podcast Pois É, poesia: Arte no Plural. Um grande abraço e até a próxima, quando eu volto com mais entrevistas e peças raras para você.

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