Transcrição: Katia Suman fala sobre o Sarau Elétrico de Porto Alegre no podcast Pois É, Poesia

 A 6ª transmissão ao vivo do Pois É, Poesia: Arte no Plural aconteceu no dia 4 de dezembro. A edição tem como tema “Sarau: a poesia do coletivo” e você pode conferir a edição completa em https://www.youtube.com/live/IIctBj18IdU?feature=shared

O programa conta com agitadores culturais responsáveis por importantes saraus, como Sérgio Vaz, Binho e Vlado Lima. A dica de leitura fica a cargo do escritor Sacolinha.

Na abertura, o apresentador Reynaldo Bessa conversa com a criadora do Sarau Elétrico, de Porto Alegre, Katia  Suman.

Aqui você confere esse bate-papo em que a comunicadora, radialista e produtora cultural fala sobre as motivações para criar e manter ativo o tradicional sarau que acontece desde 1999 e faz parte do calendário cultural da cidade. 


(Vinheta) Pois é, pois é. Pois é, poesia.

 

Reynaldo Bessa:

“Este programa pode não ser uma janela para o mundo, mas é um periscópio no oceano social”. Quem disse isso foi o grande Antônio Abujamra, e essa frase serve perfeitamente para o Pois É, Poesia, que, neste episódio, aponta o periscópio para o tema “Sarau, a poesia do coletivo”.

Os saraus se popularizaram no século XIX, principalmente entre a burguesia e a aristocracia. No Brasil, chegaram em 1808, trazido pela família real, e foram inicialmente realizados no Rio de Janeiro. De lá para cá, num curso de rupturas e ressignificações, o sarau tornou-se uma manifestação do povo.

Nas palavras do poeta Sérgio Vaz, “sarau não é um evento, mas sim um movimento”.

Chame de salões, saraus, serões, serum, seranus, cerao; aconteça no final da tarde, à noite ou até mesmo na madrugada, seja num bar, numa livraria, numa escola ou até mesmo no meio da rua, não importa, o que conta mesmo é festejar a arte, a cultura, o encontro, a amizade.

Eu sou Reynaldo Bessa, músico, escritor, poeta, e professor e este é o Pois É, Poesia: Arte no Plural, episódio #6.

Sejam todos e todas muito bem-vindos, bem-vindas.

E já começo chamando nossa primeira convidada. Ela é Katia  Suman, a criadora do Sarau Elétrico, de Porto Alegre.

Katia  é comunicadora, radialista e produtora cultural. É formada em Ciências Sociais pela PUC do Rio Grande do Sul. Mestre em Comunicação Social pela Unisinos e Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Trabalhou quase 20 anos na Ipanema FM, tendo passagens também pela FM Cultura e Unisinos FM.

Em televisão fez “Folharada Ipanema na TV”, na Band, “Crônicas do Tempo” na TVE e “Camarote” na TV Com.

Criou em 1999 o Sarau Elétrico, que, desde então, faz parte do calendário cultural da cidade de Porto Alegre.

Desde 2010, Katia  mantém a rádio web radioeletrica.com, com uma curadoria musical minuciosa.

Ela publicou o livro “Sarau Elétrico”, do qual foi produtora executiva e coautora junto com Luís Augusto Fischer, Claudia Tajes e Cláudio Moreno, Editora Belas Letras, 2011.

Participou da coletânea “Escrever a Cidade”, organizada por Luís Augusto Fischer, pela Editora Universidade de Passo Fundo, 2012.

Olá, Katia , seja muito bem-vinda ao Pois É Poesia: Arte No Plural.

É um prazer grande te receber aqui. Tudo bem?

Katia Suman:

Oi, tudo bem? Boa noite. Obrigada pelo convite, prazer estar aqui contigo.

 

Reynaldo Bessa:

Bacana! Eu já vou fazer aí três ou quatro perguntas e dependendo aqui do curso da nossa conversa, enfim. E a primeira pergunta é o seguinte, Katia , por que um sarau? Quer dizer, à época, quando você decidiu cria-lo, qual era o teu anseio mais pertinente? E, por curiosidade, por que sarau elétrico?

 

Katia Suman:

Então, foram várias coisas que contribuíram para que pintasse essa ideia, como é na vida da gente, não é? Então, assim, a primeira lembrança que eu tenho de uma coisa que me despertou foi um disco que eu ouvi que eu nunca mais consegui recuperar. Na época, era um disco de vinil. Ele tinha assim, era um ambiente de bar. Eu ouvia as pessoas, conversando, um zum zum zum. E, no meio dessas pessoas, tinha uma voz que, assim, se sobressaía, de alguém lendo ou me parecia uma leitura, um poema. Era uma mulher, uma voz forte. E eu achei aquela atmosfera muito... achei muito legal aquilo. Aquele disco me arrebatou de alguma maneira. O disco era isso, não é? Era o registro dessa leitura num bar, em Nova Iorque.

Aí corta para uma outra cena que aconteceu aqui em Porto Alegre. Sabe que o escritor Caio Fernando Abreu, apesar de não ter nascido aqui em Porto Alegre, viveu muitos anos aqui. Ele é gaúcho, enfim, era um cara ativo na cena cultural. Depois que ele morreu, a Secretaria da Cultura criou um - na época, tinha um protagonista na cultura, que ainda é, na verdade, Luciano Alabarse, que dirige o Porto Alegre Em Cena E ele organizou uma leitura em homenagem ao Caio, na época do aniversário do Caio. É, ele já havia falecido. Então ele escolheu uma crônica e convidou... uma crônica para cada pessoa e convidou umas dez pessoas de diferentes ramos de atividade. Tinha jornalista, músico, um empresário, tinha até um político no meio. Tinha gente de várias assim... pessoas bem diferentes entre si, com vivências, diversas.

E o Luciano Alabarse é um homem de teatro, né? Então ele, num centro cultural que existe aqui em Porto Alegre, que, aliás, está fechada eternamente para reforma, se chama Usina do Gasômetro. Ele criou uma ambientação dentro do que viria a ser - até hoje, não foi - o teatro Elis Regina. Eram assim as fundações do lugar, ele estava em construção... segue em construção. Então ele espalhou praticáveis nesse ambiente e tinha também uma arquibancada para as pessoas. Em cada praticável, ele colocou uma poltrona e uma pilha de livros e um abajur e uma coisa... criava um clima. Cada uma dessas dez pessoas ocupava um desses praticáveis e tinha uma iluminação cênica, né? Ele é um cara de teatro, mas assim a atividade em si consistia em ler a crônica que já havia sido designada para cada um. A gente já havia feito uma leitura prévia com o próprio Luciano. Uma leitura não é uma interpretação, né? É uma crônica, mas não dá nem para interpretar uma crônica. Então, eu fiquei impressionada com a atmosfera, com o silêncio, com a quase - eu vou usar essa palavra meio forte - devoção com que as pessoas ouviam, acompanhavam cada vírgula, cada ponto, cada ideia que ia sendo... simplesmente a mágica da literatura em voz alta naquele momento aconteceu, porque ninguém era ator ali, todas essas pessoas que estavam lendo, era como eu falei, eram pessoas de diferentes atividades.

E aí, naquele momento eu pensei, eu quero fazer um negócio desses, eu queria reproduzir aquela atmosfera. Eu queria fazer um evento de leitura, saiu junto o negócio do disco com esse clima que aconteceu nessa leitura das crônicas do Caio Fernando Abreu, e aí eu convidei duas pessoas. Eu pensei, quero fazer um evento de leituras num bar, num lugar público, aberto às pessoas e eu quero que o nome seja sarau, porque eu já tinha essa, essa ideia do nome. A explicação é a seguinte, sarau é a palavra, como tu falou aí, remete ao século 19. É uma coisa pré-eletricidade, eram salões com velas e candelabros e blá, blá, blá.

Então, assim, eu, desde o primeiro dia, eu acendo velas nas mesas lá no bar Ocidente, onde acontece - existe há 25 anos. E aí eu chamei duas pessoas, um é o professor Luís Augusto Fischer, que segue comigo no sarau desde então. Ele é um baita intelectual, ele é assim um cabeção mor no Rio Grande do Sul. Um homem muito culto, um professor da universidade, ele é da letras. Ele criou uma disciplina chamada Canção Popular. Ele estuda canção popular em nível acadêmico há mais de 20 anos. Ele tem um trabalho fantástico, não sei quantos livros, enfim, é uma pessoa admirável e é um intelectual que não se furta ao debate público. Ele está em todas as arenas. Então, eu falei, pra ele ‘olha só, eu tô com uma ideia de fazer um negócio assim, de leitura semanal’. Eu achava que tinha que ter uma periodicidade. Eu, a minha escola é o rádio, rádio é todo dia. Não é assim ai de vez em quando, não, é todo dia. Eu queria que fosse regular. Convidei o Fisher então e convidei um músico da cena. Olha, eu falo pra *******, então tu me corta a hora que tu achar que eu estou tipo...

 

Reynaldo Bessa:

Não eu ia... Bom, eu ia só pedir no caso, dirigir a palavra às nossas dirigentes, nossos representantes, todo lugar para a poesia, para as artes, é pouco. Então vamos ativar esses lugares que estão fechados, ok? Enfim, não temos muito espaço, então, principalmente, os espaços...

 

Katia Suman:

Mas não é dirigente, a gente que tem que abrir, quem tem que fazer somos nós. É a gente é que tem que ir à luta e fazer. Não tem dirigente. O sarau é um evento independente, nunca teve patrocínio e ele se sustenta na garra e porque tem gente que gosta de ver isso, não é? Mas então, só para fechar, o Fischer e o Frank Jorge, que é um músico aqui da cena local, de várias formações, um grande compositor, músico da Graforréia Xilarmônica, entre outros trabalhos. E deu uma, deu uma química, porque eu era, eu sou da comunicação, o Fisher, um intelectual, o Frank, um músico assim, imprevisível, muito irônico que vinha com uma outra abordagem. E a gente estabeleceu que a cada semana teria um tema e um convidado, e eu queria que sempre fechasse com música. Toda minha trajetória aqui está ligada à música, por conta desse tempo todo de Rádio Ipanema, que foi muito importante aqui na cena local. E aí eu paro de falar um pouco e com essas pessoas, então a gente começou essa ideia que segue até hoje.

 

Reynaldo Bessa:

Massa, então, reforço as suas palavras, vamos nos unir para abrir esse espaço, esses espaços que estão fechados que são, enfim, muito importantes para as artes, não é? Eu vou te perguntar o seguinte, numa pesquisa rápida sobre o sarau mais antigo de Porto Alegre, obviamente, o Elétrico aparece logo de cara, né? Está com 25 primaveras. O sarau soma 44 edições por ano, totalizando cerca de 1.000 edições ao longo de sua história.

Katia, o que vocês fizeram nesse meio tempo para evitar o desgaste da fórmula? Aliás, o Elétrico tem uma fórmula, ou vai de improviso? Enfim, existe um jeito de fazer o Elétrico ou vocês trabalham também isso um pouco?

 

Katia  Suman

A gente nunca... Eu não sei nem te explicar o que que mantém, mas eu acho que tem assim, tem um tanto de verdade na parada, entendeu? Então, assim, a gente estabelece um tema, eu estou pensando o que que vai ser na semana que vem, entendeu? Porque é de uma semana para outra. E o último sarau que teve foi exatamente Clarice Caio, Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, porque eles tinham uma liga entre os dois. Os dois se admiravam profundamente.

Eu acho que, assim, o que torna o sarau - é uma hipótese – atrativo para as pessoas é essa coisa assim, da verdade. Por exemplo, a gente define um tema. O tema é, digamos, melancolia, um sentimento, uma sensação. Eu vou buscar livros, trechos, em que esse,  essa sensação, esse sentimento, essa coisa que a gente não... que eu não consigo nem definir exatamente o que é melancolia. Esse estado de espírito ele aparece, mas eu vou me aproximar do tema de uma forma muito minha, própria, pessoal e verdadeira. São leituras que eu fiz em algum momento e que... Então quando eu vou pensar no tema, ela me vem, aí eu vou dar uma pesquisada, uma procurada e tal.

Então, assim, eu não sei o que que o Fisher vai ler. Eu não sei o que o Diego Grando, que é o nosso atual terceiro elemento, né? A gente forma um trio, sendo que a quarta pessoa é um convidado daquela noite que tem a ver com o tema ou é um autor. Enfim, a gente já falou de tudo, imagina 25 anos, toda semana tem. A gente tem que se virar, mas tem um tanto também de aproveitar o que está acontecendo, então a pauta do momento. Vai nos... também nos alimentando, né? Seja essa essa literatura antirracista, seja a questão do movimento feminista, LGBTQIA+, quer dizer, são pautas que estão presentes na nossa vida. A gente pode fazer um sarau, por exemplo, sobre o politicamente correto, em que medida se deve? É,como é que se deve,  na verdade, como é que a gente enfrenta hoje o fato de que muitos autores hoje - vistos sob a ótica de hoje - o que escrevem ficou difícil, às vezes, até de ler em público. Agora me lembrei assim do Dalton Trevisan. É difícil de ler, não é? Mas a gente não pode simplesmente ‘ah não’, ignorar. Existe e houve um momento histórico que produziu aquele tipo de literatura. Então, quer dizer, tudo pode ser tema, mas essa noção, assim, de que cada um traz uma coisa verdadeira que verdadeiramente lhe tocou de alguma forma, isso cria uma ligação com o público muito interessante, porque não é comum também as pessoas, de uma certa forma, a gente até se expõe, mas  vira uma conversa de verdade. E o que que? E não é fácil. A gente teve conversas de verdade assim, publicamente, num espaço em que qualquer um, mas não é uma conversa só. É uma leitura, não é? Eu quero dizer que o que conduz as escolhas é muito pessoal e eu acho que isso, de uma certa forma, é. Dá uma, dá uma... uma... uma crocância, uma coisa diferente para o sarau. Não é uma coisa, é? Não é um rito mecânico, eu vou lá, pego o livro, leio e tal. Não!

E a ente foi aprendendo também ao longo desses 25 anos a fazer o recorte cirúrgico do trecho a ser lido, porque não adianta tu ler um troço muito descontextualizado. Primeiro tem que dizer, olha, vou ler um trecho aqui de um romance. A situação é essa ou aquela, eu vou ler um diálogo, vou ler uma cena em que acontece isso, aquilo. Ou então a pessoa dizer, olha, não interessa o contexto da obra para essa noite. Nós estamos tratando de, como eu falei, melancolia, eu vou ler esse trecho e vocês vão entender por quê. É, entendeu? Mas assim tu tem que saber o timing disso, o tempo disso. Saber escolher o que vai ser lido é o mais importante do sarau, entendeu? Por que? Porque é isso que vai manter as pessoas ligadas, atentas.

 

Reynaldo Bessa

Maravilha. Eu perguntei, porque aqui no Pois É, Poesia, ele só tem 6 meses, a gente termina um Pois é, já está pensando no próximo.

 

Katia  Suman:

Hã, mas é assim.

 

Reynaldo Bessa:

E criar nos primeiros meses é uma maravilha. E por isso que eu perguntei, 25 anos é uma história, como que vocês fizeram... claro essa dedicação, esse trabalho, essa vontade de fazer, cada um é fazendo o seu melhor... Claro, isso acabou construindo essa história do Elétrico, né? Eu queria aqui... estava muito querendo saber como que vocês pensavam?

 

Katia Suman:

Eu que produzo, assim, eu que faço o negócio, faço a produção mesmo. Então, assim, eu trabalho meio como se fosse um programa de rádio, entendeu? Então, a cada semana é um tema. E não é assim, não é pensado com muita antecedência, não é? Não tem um planejamento, não. As coisas vão acontecendo. Então a gente teve aqui um episódio... enchente horrorosa, aqui no Rio Grande do Sul, aqui em Porto Alegre. Ficamos algumas semanas sem poder fazer. Quando a gente voltou, eu estava fora da minha casa, eu tive que ficar mais de 40 dias fora de casa, porque eu moro no centro. Apesar de ser um edifício, nós tivemos que sair de barco de casa, do prédio. Foi evacuado. Muito, milhares... Bom, foi uma tragédia. Então, assim, claro que a gente não pode deixar de falar sobre isso. A gente fala de política, a gente fala que está acontecendo, porque, na real, tudo está na literatura, tudo. A gente pode escolher qualquer recorte. Então, mostrar e compartilhar os diferentes olhares que os autores deixaram perenizados na história é uma grande alegria, assim, na verdade. E, também, tem uma coisa, o sarau ele é muito descontraído, viu? Ele não um troço sério, sisudo. A gente fala, a gente lê coisas densas, às vezes, mas também a gente lê coisa engraçada, a gente se diverte. Basicamente é isso. A gente se diverte, se não a gente também não ia fazer, né? Porque não é por dinheiro. Definitivamente não é. É porque é bacana, é legal, nos enriquece e o público gosta. A gente nunca deixou de fazer por falta de público em 25 anos. Então, tu imagina, é incrível.

 

Reynaldo Bessa:

Já existe uma plateia que foi construída nesses 25 anos, então? Existe um corpo aí...

 

Katia Suman:

É, mas ela vai se renovando periodicamente, não são as mesmas pessoas, mas, claro, têm os habituês. E durante a pandemia, o que a gente fez? A gente começou a fazer online. Cada um da sua casa. Aí eu criei o canal do sarau no youtube e a gente manteve... a gente criou um público novo e manteve a transmissão. O evento que a gente faz toda terça é transmitido ao vivo, pelo youtube, e a gente tem um público legal.

É uma experiência incrível, porque, pô, a gente está lendo, são textos... é incrível como a leitura, a literatura em voz alta, ela é capaz de revelar nuances de autores que a gente não se dava conta lendo silenciosamente, percebe um ritmo, tem uma outra vibração. Ler em voz alta é muito poderoso, é muito legal.

 

Reynaldo Bessa:

Sim, inclusive é aconselhado, né, para os escritores, quando escrevem seus textos ler em voz alta, porque você vê coisas que não vai notar numa leitura silenciosa. Eu faço muito isso e percebo entraves, coisinhas que eu acabo modificando.

É, Katia, sobre a relevância do Sarau Elétrico, se você tivesse que escolher apenas um item abaixo – é uma brincadeira, uma provocação. Nessa história desses  25 anos, se tivesse que escolher apenas um desses itens, o Sarau Elétrico ele fez isso:

- Ele criou uma seleta audiência de ouvintes?

- Ele formou leitores melhores?

- Ele revelou escritores? Divulgou bandas de música?

- Promoveu a boa literatura?

- Fortaleceu a comunidade? Incentivou a criação de diversos outros saraus em Porto Alegre?

Só um!

Eu sei que o Sarau Elétrico fez tudo isso, nós sabemos, mas um apenas.

 

Katia Suman:

Eu acho que é a formação de leitores o que mais me pega assim. É muito comum a gente, ao final do sarau, quando começa a cancha musical – sempre acaba com música – as pessoas vêm pedir a referência do que foi lido, ‘ah, que livro é aquele mesmo?’, ‘deixa eu ver aqui’.

Então, assim, a gente estimular a leitura, num país que tem uma média de leitura baixíssima, é um baita feito, eu acho que é um papel assim social importante. E fazer isso num ambiente não-acadêmico, é um bar. As pessoas vão beber alguma coisa, se divertir. E ficam durante uma hora. Porque o sarau tem isso, é uma premissa, ele tem hora pra acabar. Não é assim ‘ah, vai ficar lendo, lendo, lendo, lendo’. Não! É uma hora. E está ótimo. Então é uma hora que as pessoas ficam em silêncio apenas ouvindo. E riem.

E a gente tem uma outra tradição que é, assim, a cada texto lido as pessoas aplaudem. É uma coisa que pintou espontaneamente. E isso é legal, porque é, meio que assim, uma pausa entre uma leitura e outra. Não é uma pausa, entende, mas dá uma mudada na vibração. São detalhes, mas que fazem a diferença.

 

Reynaldo Bessa:

Muito legal você escolher esse quesito, porque dado o resultado da mais recente pesquisa da CBL “Retratos da Leitura no Brasil 2024” da qual eu participei do lançamento dessa pesquisa, enfim, tristes os resultados, você falava aí. Nunca foi... é um resultado inédito, triste, então muito bom você citar isso.

Katia, você meio que já respondeu uma outra pergunta, mas eu vou manter esta pergunta, porque você meio que falou que ‘ah, a gente vai pensando, vai fazendo’, mas o Sarau Elétrico integra o calendário cultural de Porto Alegre. Quais são os programas previstos para 2025? 2025 ainda está um pouquinho longe, mas você consegue vislumbrar alguma coisa que você já pensou, tá aí guardado, pode passar pra gente?

 

Katia Suman:

Não. Como eu te falei, cara, eu não sei nem o que vai ter na semana que vem. 2025, tu tá de brincadeira. Manter... esses dias eu vi uma entrevista da Fernanda Montenegro, que alguém perguntou uma coisa, tipo, ‘o que que tu mais deseja?’. E ela falou alguma coisa assim ‘cara, eu acordar e levantar e ter ânimo e energia pra fazer as coisa, já tá maravilhoso’. Então o sarau é isso. É continuidade. A gente tem agora mais dois. Dia 10 a gente tem o sarau que vai ser Folhetim. Temos um lançamento de 4 livros. E depois no dia 17 a gente vai receber no Sarau uma vereadora que foi eleita agora nas Eleições desse ano, municipais. Foram duas vereadoras trans que se elegeram em Porto Alegre e uma delas tem 9 livros lançados. Vai ser a nossa convidada no dia 17 de dezembro. Aí dia 24 e dia 31, que cai numa terça-feira, obviamente não tem. E voltamos no dia 7 de janeiro. Não sei qual vai ser o tema. Mas aí a gente vai... e aí vai rolando. Músicos pedem para participar. Às vezes a gente tem uma... agora mesmo teve a Feira do Livro, vem gente de fora, chamamos pro sarau. Quer dizer, a gente vai aproveitando o flow, né, o que tá rolando. Olha, manter o sarau vivo já está de ótimo tamanho, não sei ainda o que será a programação.

 

Reynaldo Bessa:

O Vinícius de Moraes tem uma frase maravilhosa que é ‘meu tempo é agora’. Então é muito isso mesmo. Maravilha, Katia! Muito obrigado por participar aqui com a gente. Muito bom saber sobre o Sarau Elétrico. Qualquer dia, quem sabe, quando vocês voltarem, eu vou lá a Porto Alegre, presencear o sarau.

 

Katia Suman:

Legal. Vou esperar você aqui.

 

Reynaldo Bessa:

Tá bom, querida.

 

Katia Suman:

Tá bom!

 

Reynaldo Bessa:

Obrigado

 

Katia Suman:

Aquele abraço. Muito obrigada, valeu!

 

Reynaldo Bessa:

Tudo de bom. Sucesso! Sucesso!

 

Katia Suman:

Muito obrigada. Valeu!

 

(Vinheta) Pois É, Poesia.

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