Museu do Rádio: Radiovizinhos, música e início da ditadura






Por Amanda Thomaz – aluna de Rádio e TV/FAAP

Dona Izabel é a nossa convidada de hoje. Vamos começar voltando lá atrás, quando iniciou sua relação com o rádio. Bom, sua primeira  infância  não  foi das mais privilegiadas e a única forma de seus pais terem alguma informação era  pelos  rádios  de  seus  vizinhos. Eles aumentavam o som para que a vizinhança conseguisse  ouvir  as  músicas  e  as  notícias  que  eram  transmitidas por aquele meio.

Na sua juventude,  ainda  pobre,  continuava  consumindo  rádio  pelos vizinhos  que  tinham  um  pouco  mais  de  dinheiro  e  conseguiam  comprar  o aparelho.

Izabel   começou   a   trabalhar   cedo,   aos   13   anos,   iniciou   como doméstica,  e  nas  casas  de  seus  patrões  ouvia  rádio  enquanto  trabalhava  e cozinhava  para  eles.  Ela  amava  cantarolar  durante o trabalho,  e  segundo ela,  não  fazia  feio  no  serviço.  Sempre  que  podia,  sintonizava  no  canal onde tocava música, desse jeito sentia que o tempo passava mais rápido e se divertia fazendo suas tarefas domésticas.

Nessa  época  que  começou  a  trabalhar,  conheceu  Sr.  Luiz  Carlos, quando iam nos cultos de sua igreja. Namoraram por três anos e se casaram. Logo que começaram a melhorar um pouco de vida, Sr. Luiz comprou um rádio de pilha para a casa deles, e o deixava com Dona Izabel enquanto ia trabalhar. O que a jovem mais consumia era certamente música, pois passava o dia em casa  arrumando  o  pequeno  cômodo  onde  moravam  enquanto  o  marido  não chegava do trabalho.

Em  1963  tiveram  sua  primeira  filha,  Rosemary,  e  como  a  maioria  das mulheres  daquela  época,  ficava  em  casa  cuidando  de  sua  filha  enquanto  o marido ia trabalhar. Dona Izabel relatou que seu grande companheiro naquela época foi o rádio, pois passava o dia todo sozinha cuidando da casa e de sua recém-nascida. Naquela época estavam ocorrendo muitos movimentos políticos e foi pelo rádio que ela escutou que a ditadura havia estourado.

Em sua descrição sobre esse acontecimento,   contou   que   ao   ouvir   a   notícia   ficou   extremamente assustada,   que   seu   marido   estava   fora   de   casa   e   que   seus   vizinhos esvaziaram  a  rua  imediatamente  após  a  notícia.  Percebi  que,  ao  contar  esse fato,  sua  respiração  ficou  ofegante  e  ansiosa,  como  se  tivesse  revivendo aquele momento.

Hoje em dia, Dona Izabel acha que consome mais TV do que rádio. Seu contato  com  o  rádio  se    mais  quando  entra  no  táxi  para  ir  ao  mercado  ou quando vai passear com seus filhos e netos, apesar de dizer sentir falta de ligar o rádio e cantar junto com ele como antigamente.

Bom  galera,  o  Museu  Virtual  do  Rádio  me  ensinou  muito  como  as relações  com  o  rádio  mudaram  daquela  época  pra  cá.  Era  pelo  rádio  que grandes  acontecimentos  eram  noticiados  e  como  a  relação  com  eles  era  bem mais  próxima  da  que  temos  hoje. 

Agora  com  a  chegada  de  podcasts,  espero que  tenhamos  uma  relação  mais  estreita  com  o  áudio,  voltando  a  adaptar nossos ouvidos.


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