Histórias do Rádio Episódio 2: Ademar Casé, música brasileira e primeiro jingle na década de 1930



Acompanhe o 2º episódio da série "Histórias do Rádio". Desta vez, vamos conhecer como o rádio se tornou um meio popular, em 1932, com o Programa Casé, a música brasileira e o início da publicidade no sem-fio. Ouça no player abaixo ou na sua plataforma de áudio preferida, no podcast "Peças Raras":

Abaixo, a base do roteiro do podcast:

EPISÓDIO II – ANOS 30

VHT PEÇAS RARAS 

Olá, tudo bem com você?

Por aqui Marcelo Abud e mais um capítulo da história do rádio no Brasil.

O final da década de 1920 conta com a colaboração de alguns espertos e empreendedores comerciantes. Animados com o surgimento das fábricas de rádio, eles começam uma verdadeira cruzada para espalhar o novo meio de comunicação. Um desses pioneiros vendedores de rádio foi o saudoso Ademar Casé (avô de Regina Casé). Seu método era, no mínimo, curioso: ia até a casa ou escritório do possível cliente numa hora em que sabia que ele não estava. Lá, deixava o rádio ligado e um recado, dizendo que voltaria para conversar mais tarde. Com essa técnica, Ademar Casé vende tanto aparelho a ponto de conquistar a confiança da Philips (fábrica da qual era representante). Em depoimento sobre esse período, Casé explica como tudo começou.

ADEMAR CASÉ – SONORA 1 (CASÉ – VENDEDOR DE RÁDIO)

Alguns anos mais tarde - em 1932 – passa a ter seu próprio programa na própria Rádio Philips, talvez a primeira emissora customizada do Brasil. Ou seja, uma rádio que tinha como motivação vincular o nome da Philips à da expansão do aparelho.   

O Programa Casé teve longa e vitoriosa vida. Baseado em instruções da BBC de Londres, Casé revoluciona o conceito de rádio, fazendo um programa ágil e popular, com quadros fixos (um deles apresentado por Noel Rosa aos Domingos).

ADEMAR CASÉ – SONORA 2 (PROGRAMA POPULAR)

Esse foi só o primeiro passo de um grande arranque que o rádio viveu nos anos de 1930. Um fator foi primordial para esse crescimento: a propaganda. Autorizada por Getúlio Vargas em 1932, a publicidade no rádio começou com patrocínios e logo em seguida com comerciais avulsos, na forma de textos lidos pelos locutores e também de jingles – anúncios cantados. Só a título de curiosidade, Ademar Casé também inovou, ao apresentar em seu programa, o primeiro jingle brasileiro, criado por Nássara. Em áudio que faz parte do CD que acompanha o livro Histórias que o rádio não contou, escrito por Reynaldo Tavares, Almirante, um dos compositores e cantores daqueles anos 30, relembra o refrão desse jingle.

SONORA 3 – JINGLE COM ALMIRANTE (“Oh! Padeiro desta rua/ Tenha sempre na lembrança / Não me traga outro pão / Que não seja o pão bragança”).

A propaganda se torna a fonte geradora de recursos para a evolução do rádio em termos de número de emissoras e de qualidade de programação, iniciando um processo de profissionalização que, juntamente com a disseminação dos aparelhos receptores, transforma o rádio no mais popular meio de comunicação da primeira metade do século XX. 

Com mais verbas, os quadros passaram a contar com a participação crescente dos artistas da música popular da época, como Carmem Miranda e Ary Barroso. O destaque nessa época é a rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro.

A programação que antes, nos anos 20, era composta por músicas clássicas, palestras e outros assuntos que interessavam à elite brasileira, agora, a partir dos anos 30, passa a contar com programas de auditório, concursos de calouros, transmissão de partidas de futebol, shows de humor e radioteatro.

Em agosto de 1933, é gravada em disco a música As Cinco Estações do Ano. A composição de Lamartine Babo é interpretada pelo próprio Lamartine, juntamente com Almirante, Carmem Miranda e Mário Reis. A letra fala com bom humor das 5 estações de rádio mais famosas da época: Educadora Paulista, Philips, Sociedade do RJ, Club do Brasil (RJ) e Mayrink Veiga.

Na letra, a rádio Educadora é chamada de “estação de águas”, expressão usada pelos artistas para ironizar emissoras que iam mal.

A Rádio Philips ganha destaque pelo sucesso do Programa Case e por atrair anunciantes de todos os gêneros.

A Mayrink Veiga, que era a emissora de maior audiência na época, e tinha como diretor César Ladeira, tem sua popularidade realçada.

Já a Sociedade, primeira emissora do Brasil, à época completava sua primeira década de vida. Desde que foi fundada em abril de 1923 pouca coisa havia mudado em sua programação, que permanecia privilegiando a música erudita.

A última estrofe de As Cinco Estações do Ano é dedicada à Rádio Clube e refere-se ao preconceito sofrido pelos primeiros narradores de futebol. A letra cita um episódio vivido pelo locutor Amador Santos, que, proibido de transmitir um Fla-Flu, instala-se em uma casa da vizinhança e sobe em um galinheiro para narrar a partida. Na época, dizia-se que a voz do locutor havia chegado aos ouvintes misturada aos cacarejos das galinhas.

Vamos ouvir AS CINCO ESTAÇÕES DO ANO, gravada em 6 de julho de 1933.

AS CINCO ESTAÇÕES DO ANO

Não só no Brasil, mas no mundo todo o rádio transmitia a sua força. Em 1938, na véspera do dia das Bruxas, a rádio americana CBS apresentou o radioteatro “A Guerra dos Mundos”, em que Orson Welles (que mais tarde fica conhecido no cinema pela repercussão de Cidadão Kane) simula uma invasão de marcianos aos Estados Unidos. O que deveria ser apenas um programa criativo e inteligente se transforma em uma imensa confusão.

Era o prenúncio de um gênero que evoluiria para a radionovela. Para conhecer a história dessa transmissão histórica, vá ao blog Peças Raras e digite “Guerra dos Mundos” na busca do canal.

Como aqui nos dedicamos à história do rádio no Brasil, no próximo episódio, você vai saber como o radioteatro impacta na criação do gênero mais famoso da cultura popular brasileira.

Até a próxima, com mais um capítulo da história do rádio no Brasil.

VHT PEÇAS RARAS NOS 90 ANOS DO RÁDIO

VEJA MAIS:
No filme "Programa Casé, o que a gente não inventa, não existe", é possível conhecer em mais detalhes esta incrível história. Assista abaixo: 

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